Page 139 - Ação integrada de formação de professores
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as implicações  decorrentes dessa utopia. A palavra utopia significa o lugar que não
                                 existe. Não quer dizer que não possa vir a existir. Na medida em que não existe, mas, ao
                                 mesmo tempo, se coloca como algo de valor, algo desejável do ponto de vista da solução
                                 dos problemas da escola, a tarefa deve consistir, inicialmente, em tomar consciência das
                                 condições concretas, ou das contradições concretas, que apontam para a viabilidade de
                                 um projeto de democratização das relações no interior da escola (PARO, 2016, p. 20).


                 No Brasil,  o Conselho  de Classe  é um conceito  relativamente recente. Entretanto,
           na França, já se conhecia esta prática desde meados dos anos 1940, de acordo com autores
           como Rocha (1982) e Dalben (2004). Segundo esses autores, apesar de sua função meramente
           classificatória, que se baseia em definir a vida do estudante por meio da identificação de seu
           caráter ou suas aptidões, os Conselhos de Classe franceses daquela época deram origem aos
           atuais formatos de colegiado participativo e dialógico.
                 Conforme Rocha (1982), o modelo francês foi trazido ao Brasil em 1958, por dois
           professores  que estudavam  na França: Laís  Esteves  Roffredi  e Myrtes de  Lucca  Wenzel. A
           novidade chamou a atenção de docentes e gestores da capital brasileira, na época, o Rio de
           Janeiro, e um projeto experimental foi implantado no Colégio de Aplicação da Universidade
           Federal do Rio de Janeiro (CAP), contando, inclusive, com financiamento do Ministério da
           Educação  (MEC).  Historicamente, na época, vivia-se  um  período de  abertura democrática,
           principalmente, no  campo  da  educação,  devido  às  ideias  trazidas  pelo  escolanovismo,
           movimento também chamado de Escola Nova ou Pedagogia Ativa, o qual buscava a
           humanização e a democratização do sistema educacional brasileiro (LUCKESI, 1996).

                 Apesar  de a primeira Lei de Diretrizes e Bases (LDB),  a Lei nº 4024/61, já sinalizar
           para a adoção de experiências pedagógicas que permitissem o aperfeiçoamento das práticas
           pedagógicas, o estabelecimento formal do Conselho de Classe acontece no Brasil com a Lei nº
           5692, de 11 de agosto de 1971. Ainda que essa normativa não dispusesse claramente sobre o
           Conselho de Classe, o Art. 14 § 1º apregoava: “Na avaliação do aproveitamento, a ser expressa
           em notas ou menções,  preponderarão os aspectos qualitativos sobre os quantitativos e os
           resultados obtidos durante o período letivo sobre os da prova final, caso esta seja exigida”
           (BRASIL, 1971 - redação original). Dessa forma, os Conselhos Estaduais de Educação, a quem,
           de acordo com a Lei nº 5692/71, cabia reger a organização didático-pedagógica do ensino,
           passaram a estabelecer os Conselhos de Classe. De acordo com Rocha (1982), um dos primeiros
           estados a realizar experimentos nesse sentido foi o Paraná.
                 Entretanto, a gestão democrática  do  ensino passa  a ter respaldo  legal no Brasil,
           efetivamente, a partir da Constituição Federal de 1988, reafirmada pela atual Lei de Diretrizes e
           Bases da Educação Nacional (LDBEN), a Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Nesta última,
           o texto é bem claro: “Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática
           do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades” (BRASIL, 1996).
           Na sequência, estabelece ainda os princípios que deverão nortear este modelo de gestão: “I -
           participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II -
           participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes” (IDEM).
                 A partir dessa contextualização, o presente capítulo tem o objetivo de suscitar o debate
           em torno do  Conselho  de Classe  enquanto espaço  democrático  de participação e diálogo
           entre os segmentos escolares. A problemática que guiou as discussões orbitou em torno do
           questionamento sobre a possibilidade de esta instância cumprir seu papel de permitir a efetiva
           participação desses atores. Assim, emerge a questão de pesquisa: o Conselho de Classe cumpre
           realmente seu papel de facilitador de um trabalho participativo e democrático, configurando-



           AÇÃO INTEGRADA DE                                                      SUMÁRIO                 138
           FORMAÇÃO DE PROFESSORES
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