Page 56 - Ação integrada de formação de professores
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no mundo. Assim, graças à competência pedagógica constituímos um mundo humano baseado
           em padrões culturais e sociais que, por sua vez, implicam determinados modos de ser e de
           agir, de relacionar-se e de expressar-se. Padrões esses que se modificam ao longo dos tempos
           por conta da capacidade recriadora presente no modo humano de aprender.

                 O nosso  esforço,  a nossa disposição  em educar as novas gerações devem-se  ao fato
           de acreditarmos que esse mundo humano – com suas respectivas crenças, valores, técnicas,
           competências, modos de ser, etc – constitui um legado que vale a pena ser transmitido às novas
           gerações. Tudo isso remete à ideia de que educar, em última instância, consiste no esforço
           em “contar o mundo às novas gerações”. Frente a isso, colocam-se as questões: Como contar?
           Como funciona isso? Como isso é possível?

                 Em primeiro lugar, essa “contação” do mundo funciona, porque somos uma espécie
           aprendente. E aprendente em ritmo rápido. Muitos dos nossos aprendizados ocorrem em razão
           das circunstâncias em que vivemos, do contexto em que estamos, da necessidade de resolver
           problemas do cotidiano e, inclusive, em função dos nossos tropeços. Em todo caso, a criança
           que nasce hoje tem condições de incorporar o legado da espécie em poucos anos.
                 Embora se possa assegurar que temos uma disposição genética para aprender e que,
           ao nascer, já nos inserimos  numa dinâmica  de aprendizagem, o que de fato potencializa
           a aprendizagem humana é a interação com  outros  humanos  e, especialmente,  com  quem
           aprendeu antes. Pode-se, então,  afirmar que o específico do aprendizado humano é o de
           aprender com ou diante de outros.
                 E como o aprendizado efetivamente ocorre? Ele ocorre como realização do sujeito
           aprendente, em perspectiva própria, como processo de subjetivação. Ou seja, ele não se dá por
           repetição ou por simples transferência. Todo conhecimento precisa articular-se com o universo
           de experiências, referências e sentidos do sujeito aprendente. Caso contrário, ele não “gruda”
           no sujeito, não se sustenta como um saber, como uma capacidade, como uma competência. Ele
           necessita incorporar-se e converter-se numa “figuração” interna do sujeito aprendente. Isso
           implica empenho, esforço, disciplina e a cumplicidade do aprendente.
                 Assim, aprender com base no já aprendido por quem “veio antes”, aliado à necessidade
           de fazê-lo em perspectiva própria, no sentido de tomar esse aprendizado como novo para cada
           aprendente, parece ser a questão central da educação. Uma questão que coloca, de partida, a
           responsabilidade tanto por parte dos educadores de ensinarem a tradição histórica e cultural
           aos educandos,  quanto a responsabilidade dos educandos  de fazerem desse ensinamento
           um modo possível de se situarem no mundo como sujeitos históricos, de fazerem dele um
           aprendizado.
                 Ao  supor  a  importância  ou  a necessidade  da  educação,  pensa-se  em  coisas  a  serem
           aprendidas como desejáveis para a orientação da vida humana. Ora, se algo é desejável ou
           considerado importante de ser aprendido, deverá haver alguma validade nisso, no sentido de
           poder ser tomado como verdadeiro, correto, adequado, enfim, como razoável. Há, inclusive, a
           indicação de conhecimentos como mais importantes do que outros. O próprio estabelecimento
           de currículos escolares pressupõe, por sua vez, algum critério para a seleção ou a hierarquização
           dos saberes a serem aprendidos. Daí a importância de tematizar o caráter daquilo que tomamos
           como conhecimento.
                 A linguagem constitui a “marca antropológica por excelência”. Ela é condição
           indispensável  para nós  nos  percebermos  como  sujeitos  de  conhecimento  (ARAGÃO,  1992,
           p. 51). Entende-se, aí, que a dimensão do “saber que se sabe” só é alcançável pela mediação



           AÇÃO INTEGRADA DE                                                      SUMÁRIO                   55
           FORMAÇÃO DE PROFESSORES
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