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Trump. E, no entanto, quando enfrentamos uma crise como uma
epidemia ou um furacão, recorremos ao governo, porque sabemos
que esses eventos exigem ação coletiva. Não podemos fazer isso so-
zinhos, nem confiar no setor privado. Com demasiada frequência,
as empresas que maximizam o lucro veem as crises como oportu-
nidades para obter preços superfaturados, como já é evidente no
aumento dos preços das máscaras.
Infelizmente, desde o governo do presidente dos EUA, Ronald
Reagan, o mantra nos EUA tem sido de que “o governo não é a solu-
ção para o nosso problema, o governo é o problema”. Levar a sério
essa tese é um caminho sem saída, mas Trump o percorreu mais
longe do que qualquer outro líder político da história dos EUA.
No centro da resposta dos EUA à crise da COVID-19, está uma
das instituições científicas mais veneráveis do país, os Centros de
Controle e Prevenção de Doenças - CCPD (Centers for Disease
Control and Prevention), que tradicionalmente contam com pro-
fissionais comprometidos, conhecedores e altamente treinados.
Para Trump, o definitivo político-que-não-sabe-de-nada, esses
especialistas representam um problema sério, porque o contradi-
zem sempre que ele tenta inventar fatos para servir os seus próprios
interesses.
A fé pode nos ajudar a lidar com as mortes causadas por uma
epidemia, mas não substitui o conhecimento médico e científico.
Força de vontade e orações foram inúteis para conter a Peste Negra
na Idade Média. Felizmente, a humanidade fez notáveis avanços
científicos desde então. Quando a cepa COVID-19 apareceu, os
cientistas foram capazes de analisá-la rapidamente, testá-la, ras-
trear suas mutações e começar a trabalhar com uma vacina. Embora
ainda haja muito mais a aprender sobre o novo coronavírus e seus
efeitos nos seres humanos, sem a ciência estaríamos completamen-
te à sua mercê, e o pânico já teria tomado conta.
A pesquisa científica requer recursos. Mas a maioria dos maio-
res avanços científicos dos últimos anos custou um valor irrisório
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