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em comparação com a generosidade concedida às nossas empresas
               mais ricas pelos cortes de impostos de Trump e dos congressistas
               republicanos em 2017. De fato, nossos investimentos em ciência
               também empalidecem em comparação com os custos prováveis   da
               epidemia mais recente para a economia, sem mencionar o valor
               perdido do mercado de ações.
                  No entanto, como aponta Linda Bilmes, da Harvard Kennedy
               School, o governo Trump propôs cortes no financiamento do CCPD
               ano após ano (10% em 2018, 19% em 2019). No início deste ano,
               Trump, demonstrando o pior timing possível, demandou um corte
               de 20% nos gastos em programas para combater doenças infeccio-
               sas e zoonóticas emergentes (ou seja, patógenos como coronavírus,
               que se originam em animais e saltam para os seres humanos). E
               em 2018, ele eliminou a diretoria global de segurança sanitária e
               biodefesa do Conselho de Segurança Nacional.
                  Não é de surpreender que o governo tenha se mostrado mal
               equipado para lidar com o surto. Embora a COVID-19 tenha atin-
               gido proporções epidêmicas semanas atrás, os EUA sofreram com
               capacidade insuficiente de testagem (mesmo em comparação com
               um país muito mais pobre como a Coréia do Sul) e procedimentos
               e protocolos inadequados para lidar com viajantes potencialmente
               expostos que retornam do exterior.
                  Essa resposta abaixo da média deve servir como mais um lem-
               brete de que uma grama de prevenção vale um quilo de cura. Mas a
               panacéia multifacetada de Trump para qualquer ameaça econômi-
               ca é simplesmente exigir mais flexibilização da política monetária
               e cortes de impostos (geralmente para os ricos), como se reduzir as
               taxas de juros fosse o suficiente para gerar outro boom no mercado
               de ações.
                  Esse tratamento charlatão tem ainda menos chances de funcio-
               nar agora do que em 2017, quando os cortes nos impostos criaram
               um alto nível de açúcar econômico de curto prazo que já havia
               se dissipado quando entramos em 2020. Com muitas empresas



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