Page 117 - Quarentena_1ed_2020
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Na saúde, educação, segurança, intermediação financeira e outros
serviços essenciais de consumo coletivo, a privatização é uma des-
graça. Vira indústria da doença, indústria do diploma, indústria da
dívida. Sem falar das milícias.
O que temos pela frente, além do Corona vírus, é pensar uma
sociedade mais solidária e resiliente, em cada país e em cada cidade.
Uma outra dimensão capaz de ultrapassar a pandemia e apon-
tar novos rumos é o desafio da governança planetária. No caso do
aquecimento global, por exemplo, estamos assistindo a uma catás-
trofe em câmara lenta, enfileirando reuniões internacionais em que
se constata que... “temos de tomar providências”. Quais providên-
cias? As providências cabíveis. Quando? No momento oportuno.
Por quem? Pelas autoridades competentes. E assim por diante, o
velho discurso que conhecemos. Os governos até assinam compro-
missos com boa vontade, mas voltando para casa, eles se preocu-
pam mais com a sobrevivência do seu mandato do que com a so-
brevivência da humanidade.
As corporações sempre conheceram perfeitamente, muito antes
de nós, o tamanho dos desastres que contribuem para gerar. As em-
presas de cigarro conheciam, por pesquisas internas, a expansão do
câncer e os milhões de mortes que ocasionavam – e que continuam
a ocasionar - enquanto o negavam publicamente. A Volkswagen
conhecia perfeitamente o volume de emissões de partículas que
seus carros produziam, e sabia que estava contribuindo com cerca
de 6 milhões de mortes que esta poluição ocasionava anualmente
no mundo. A British Petroleum conhecia a tecnologia de explora-
ção de petróleo em águas profundas, mas dinheiro para os acionis-
tas era mais importante.
A Vale sabe como se constrói uma simples barragem segura –
somos um país que tem capacidade de construir uma Itaipu, mas
aqui também os interesses financeiros dominaram. As empresas
de petróleo e do carvão sabem há décadas que estão levando a
economia mundial para o desastre. A lista aqui pode ser imensa, o
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