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países estão fechando suas fronteiras como se o Corona precisasse
               de visto de entrada! E a culpa pelo aquecimento global está sendo
               empurrada de um lado para outro. Cada um clama o seu direito
               soberano de defender os seus interesses a seu modo, ainda que o
               resultado sistêmico seja um desastre.
                  O que o Corona vírus nos lembra, ou praticamente esfrega na
               nossa  cara, é que  estamos  realmente maduros para  um sistema
               de soberania compartilhada e regulada no plano global. A ONU
               apresenta o  Global  Green  New  Deal, a OCDE negocia o acordo
               Base Erosion and Profit Shifting  (BEPS) buscando assegurar pri-
               meiros passos na regulação fiscal e financeira do planeta, o World
               Inequality Database (WID) sistematiza os dados básicos sobre a
               rupturas sociais e econômicas, grandes corporações e grupos fi-
               nanceiros estão acenando com possíveis reorientações no seu com-
               portamento, até Davos apela para evoluirmos da prioridade dos
               acionistas para as prioridades da sociedade e do meio ambiente
               (From Shareholders to Stakeholders). Um simples apelo do Papa
               para discutir uma outra economia, a Economia de Francisco, reúne
               pesquisadores de primeira linha mundial.
                  A crise global pode gerar – e apenas pode – um choque de bom
               senso. Confinado em casa, tenho todo o tempo de enfrentar as 1200
               páginas de Capital e Ideologia, de Thomas Piketty, na edição fran-
               cesa (ainda não saiu em português, mas está disponível em inglês).
               Raramente vi tanto bom senso organizado. O livro trata essencial-
               mente do nosso principal drama, a desigualdade, e é um primor de
               realismo na análise e de clareza nas propostas. E me impressiona
               o leque de trabalhos de primeira linha que estão construindo uma
               nova visão de como a economia e a sociedade podem ser reorgani-
               zadas. O People, Power and Profits do Joseph Stiglitz, A Economia
               Donut de Kate Raworth,  O Estado Empreendedor de Mariana
               Mazzucato, A Apropriação Indébita de Gar Alperovitz e Lew Daly,
               The Public Bank Solution de Ellen Brown, os trabalhos de Há-Joon
               Chang, de Marjorie Kelly, de Ann Pettifor, de Saez e Zucman, de



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