Page 124 - Quarentena_1ed_2020
P. 124
O Estado é o senhor da moeda, e os bancos, sob a supervisão e
o controle do Banco Central são incumbidos da criação monetária
mediante operações de crédito, o que permite a antecipação de ex-
pectativas futuras de produção e emprego, em virtude da tomada
de risco pelos devedores, amparada na capacidade de alavancagem
da atividade bancária.
Assim é, porque em sua dimensão monetária, o capitalismo
revela o indissociável contubérnio entre o Universal e o Particular,
entre o Estado e o Mercado, entre a Comunidade e o indivíduo. O
dinheiro não pode ser criado e entrar em circulação sem a benção
do Estado e a unção das relações de propriedade, as relações débito-
-crédito. A criação monetária executada pelos bancos sob a super-
visão do Estado reforça as relações de propriedade: o banco credor
empresta exercendo a função de agente privado do valor universal.
O devedor exercita seus direitos usufruindo o valor universal como
proprietário privado.
Se não pagar a dívida, o agente privado do valor universal pode
expropriar o devedor de sua propriedade. Na pandemia econômica,
os nexos monetários foram rompidos e os proprietários privados,
aí incluídos os proprietários da força de trabalho, foram expropria-
dos, afastados de suas atividades. A propriedade jurídica sucumbe
ao colapso econômico e a restauração das relações proprietárias
só pode ser garantida pela ação discricionária do Estado - Banco
Central e Tesouro Nacional. Os mi-mi-mis liberalóides dos Paulo
Guedes & Companhia, sempre preocupados com o que virá depois,
podem destruir o futuro com suas vacilações no presente.
A pandemia de Coronavírus avança entre desesperos, indigna-
ções e serenidades. Os humanos tampouco conseguem escapar de
repentes de humor que brotam incansáveis nas redes sociais.
O jornalista Mario Vitor Santos postou em um grupo de amigos
a manifestação de um certo Pedro Vallin. Traduzo do espanhol:
“Acreditávamos que o medo da morte convertia os ateus em cren-
tes, mas, na verdade, converteu os neoliberais em keynesianos”
124