Page 125 - Quarentena_1ed_2020
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Terça-feira, 17 de março de 2020 fui dormir acalentado por in-
suspeitadas declarações dos comentaristas da Globonews. Depois
de longa temporada tocando o realejo de Paulo Guedes, “Não tem
dinheiro”, a turma dos Marinho proclamou, quase em uníssono:
“As pessoas fazem parte da economia.” Eureka!!!
Tenho a impressão que as pessoas brasileiras já estavam nos ar-
rabaldes da economia, muitas desempregadas, outras sobrevivendo
à custa de pedaladas nas plataformas de comida ou detonando a
saúde no transporte uberizado.
O site da Bloomberg informa que “Até falcões do déficit apoiam
grandes gastos para combater a crise do vírus”. O jornalista Peter
Coy entrevistou três figurinhas carimbadas da ortodoxia econô-
mica: Gregory Mankiw, de Harvard, foi conselheiro econômico-
-chefe do presidente republicano George W. Bush e é autor de um
livro best-seller de Macroeconomia; Glenn Hubbard, ex-reitor da
Columbia Business School, também foi conselheiro econômico-
-chefe de Bush; e Alberto Alesina, de Harvard, patrono da austeri-
dade expansionista, uma das pérolas mais cobiçadas por economis-
tas da estirpe de Paulo Guedes.
Hubbard foi incisivo: “Embora a política não possa compensar
o choque de oferta, ela pode garantir que a demanda não afunde.
Enviar cheques para indivíduos de baixa e moderada renda seria
útil e deveria ser possível. Os mercados estão precificando cenários
terríveis por causa da queda da confiança. Um grande programa
de infraestrutura tranquilizaria as empresas a respeito da demanda
futura — os projetos não precisam estar “prontos” para que isso
funcione... Embora a profanação das regras fiscais não seja o objeti-
vo, os formuladores de políticas devem priorizar a segurança sobre
o déficit de curto prazo.”
O austero expansionista Alesina emendou: “Eu não sou um
falcão do déficit. Sou um economista que entende as prescrições de
uma política fiscal ideal: executar déficits maciços quando há uma
necessidade temporária como agora com o vírus e reduzi-los em
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