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do Banco Central em conjunto com a gestão da dívida pública pelo
Tesouro.
Quando mencionam as instituições “grandes demais para falir”,
os especialistas e quejandos deixam escapar do inconsciente a
verdadeira natureza do complexo financeiro-monetário. Na forma
em que está constituído nas economias capitalistas contemporâneas
o complexo financeiro- monetário - além de desempenhar as fun-
ções de administrador do sistema de pagamentos e provedor de
liquidez, ou seja, de cuidar da “infraestrutura do mercado- trans-
figurou-se no que Minsky chamou “money manager capitalism”.
Essa é a etapa mais avançada do capitalismo porque nela a
capacidade de mobilização dos capitais se transforma, na esfera
produtiva - em uma força de supressão das barreiras tecnológicas
e de mercado– em particular daquelas que decorrem do aumento
das escalas de produção, com imobilização crescente de grandes
massas de capital fixo. As instituições financeiras que participam da
constituição e gestão das grandes empresas produtivas promovem a
supressão da concorrência mas, ao fazer isto, estimulam a conquis-
ta de novos mercados, provocando o acirramento da concorrência
entre blocos de capital e impulsionando a internacionalização cres-
cente da concorrência. Vide a relação China-Estados Unidos.
O ciclo de expansão recente e sua crise demonstraram, no entanto,
que a acumulação de riqueza monetária pode se desvencilhar dos
incômodos da produção material. Essa proeza não é sintoma de
deformação, mas de aperfeiçoamento da “natureza” do “money ma-
nager capitalism”. Ele se distingue pelo caráter universal e perma-
nente dos processos especulativos e da inovação criativa, capazes
de suplantar as façanhas mais espetaculares do que aquelas imagi-
nadas por Karl Marx ao desenvolver o conceito de “capital fictício”.
O Dinheiro Diabólico assombra o mundo abstrato da raciona-
lidade e do equilíbrio, como o fantasma de Banquo assombrava
Macbeth. Quando euforia alavancada se transmuta no medo e na
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