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– ancorado no ouro – como moeda universal investida na função
               perturbadora de reserva universal de valor.
                  Os títulos de riqueza denominados na moeda não conversível e
               os carimbados com o selo das moedas conversíveis são substitutos
               imperfeitos. Diante da hierarquia de moedas, o teorema da pari-
               dade descoberta das taxas de juro não funciona. Isso permite aos
               mercados financeiros prosseguir sem sustos na “arbitragem” entre
               juros internos e externos e sem convergência das taxas de juro, des-
               contados os diferenciais de inflação esperada.
                  Os comentários a respeito das desvalorizações generalizadas
               nos ditos emergentes insistem na prevalência dos fatores “inter-
               nos” em detrimento dos “externos”. Mas, na era da abertura finan-
               ceira turbinada, os fatores “externos” estão sempre abrigados nos
               “internos”, como parasitas nos intestinos. No banquete da grana
               abundante, os “externos” empanturram os gulosos. Quando a festa
               vira fome, sobram na barriga os protozoários das crises fiscais e
               monetárias.
                  Não há que descartar os desatinos fiscais e monetários dos go-
               vernos. Mas há quem teime em ignorar os desastres fiscais e mo-
               netários no Brasil dos 1980 e 1990, no México em 1994, na Ásia em
               1997, na Rússia em 1998, na Argentina em 2001 pelas “viradas de
               mesa” dos provedores privados de financiamento externo.
                  Pois, no surto recente de desvalorização do real, a grita dos sa-
               bichões da mídia atacou os fatores “internos”. Quando observam
               movimentos do  câmbio, as pitonisas  e sabichões  falam fiado de
               “fundamentos”, sempre prontos a proclamar que é preciso fazer
               um ajuste fiscal e elevar a taxa Selic. Nos festivais eletrônicos de
               celebração dos “ajustes”, percebo os movimentos faciais dos pro-
               fetas das telas: suas bochechas dançam à cata de um sestro entre o
               sorriso da Mona Lisa e o deboche do Coringa...
                  Amigos de tempos idos entupiram minha caixa de mensagens
               com comentários favoráveis aos palpites de celebrados e celebradas
               comentaristas de telejornais. Veja, caro leitor, como o País avançou.



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