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generalizada do trabalho precário. A desconstituição de estratos
intermediários da estrutura ocupacional, denominados de classe
média assalariada, e o refluxo da tradicional classe trabalhadora,
sobretudo de base industrial, somam-se à difusão ideológica do su-
jeito social competitivo e empreendedor de si mesmo, descrente da
ação do Estado e das políticas públicas de ação coletiva.
Em grande medida, assiste-se ao enfraquecimento do proje-
to de sociedade salarial na transição acelerada do capitalismo de
base industrial para o de serviços. No cenário da globalização
conduzida pelas grandes corporações transnacionais, organismos
multilaterais herdados da antiga ONU, como Fundo Monetário
Internacional, Banco Mundial e outros, praticam a vassalagem
de difundir constantes recomendações aos países que contribuem
para deformar o sistema de regulação nacional (saúde, trabalho,
educação, previdência e outros) em proveito dos interesses privados
e do capitalismo de dimensão global.
Embora funcionando com dificuldades, quase sempre ocultadas
pela monopolização da mídia comercial e das tecnologias de infor-
mação e comunicação em apenas 6 grupos econômicos no mundo,
a governança capitalista de ênfase neoliberal completou quatro dé-
cadas de hegemonia mundial. Mas seus constrangimentos maiores
tendem a se tornar mais agudos nos momentos extremos, quando
problemas multidimensionais se acentuam, como na crise global
de 2008 e agora com a pandemia do Covid-19.
Diante disso, o presente texto tem por objetivo recuperar breve-
mente a experiência de atuação do Estado no Brasil. Dessa forma,
espera-se poder contribuir com elementos explicativos para a inde-
cência praticada pelo governo atual no enfrentamento da pandemia
do coronavírus, cujos efeitos econômicos e sociais tendem a ser os
mais graves de toda a história republicana do país.
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