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governos neoliberais anteriores. Ao mesmo tempo em que cons-
            tituiu a quarta fase do ciclo da reestruturação do setor produtivo
            estatal, mostrou ser fundamental para garantir a expansão econô-
            mica mais acelerada, com a elevação da taxa de investimento e, por
            consequência, a aproximação do pleno emprego, a manutenação da
            baixa inflação e a redução da dívida pública em relaçãoao PIB.
               Tudo isso, contudo, que se apresentou insuficiente para inter-
            romper o processo da desindustrialização precoce não terminou
            retraíndo, por outro lado, a antecipada passagem para a sociedade
            de serviços. No desmonte da antiga sociedade urbana e industrial,
            os sujeitos históricos associados à defesa do papel do Estado na eco-
            nomia foram, por consequência, fragilizados.
               Sinal de que a alteração na correlação de forças no interior da com-
            posição das classes dominantes se tornava menos favorável ao papel
            do Estado empreendedor. A simultânea ascensão da burguesia comer-
            cial e impordutovamente financeirzada, mais preocupada em comprar
            barato para vender caro, se viabilizou novamente pela retomada do
            receituário neoliberal a permitir a expansão tanto o capital rentista
            quanto do agronegócio, interessado nas teses do livre comércio que
            dominaou os governos na segunda metada da década de 2010.
               Em síntese, a composição da classe dominante e atualmenete ze-
            ladora do receituário neoliberal, passou a corresponder, guadada a
            devida proporção, àquela vigente durante a arcaica e longeva socie-
            dade agrária, originalmente defensora do liberalismo no século 19.
               Nesse sentido, a ascensão golpista em 2016 favoreceu ampla-
            mente a adoção dos pressupostos do anarcocapitalismo, sobretudo
            no interior do recente governo Bolsonaro. Trata-se, em geral, de
            desfazer, não reestruturar, o setor produtivo estatal, entregando-o
            as empresas privadas nacionais ou estrangeiras, inclusive estatais
            pertencentes a outros países.
               Com isso, o país voltou a registrar noavmente a presença de mais
            uma década perdida, a primeira do século 21. Apesar do desempe-
            nho econômico e social positivo verificado entre os anos 2010 e



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