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Papel do Estado
No Brasil, o ideal liberal traduzido por Silvestre Pinheiro Ferreira
e Hipólito da Costa no começo do século 19 teve como principais
adeptos os segmentos voltados para a economia da exportação e
importação, Na época, formada majoritariamente por latifundiá-
rios e escravistas interessados na combinação das estruturas tra-
dicionais de produção do agrarismo arcaico com o livre comércio.
Essa perspectiva correspondeu a mais de um século de existên-
cia, uma vez que se prolongou desde antes da Independência na-
cional (1822) até o final da República Velha (1930). Sua persistência
no tempo, capaz de superar tanto o ingresso no modo de produção
capitalista, com a soltura legal dos escravos a partir de 1888, como
a transição da Monarquia para a República, em 1889, somente se
mostrou viável durante a predominância da sociedade agrária.
Com a passagem para a sociedade urbano e industrial, a partir
de Revolução de 1930, a ineficiência do Estado liberal tornou-se
cada vez mais explícita, incapaz de justificar a continuidade do
antigo e arcaico agrarismo. A incompatibilidade ficou ainda mais
explícita ao final do Estado Novo (1937-1945) com a polêmica
gerada entre a necessidade da industrialização do país, defendida,
por exemplo, pelo líder industrial paulista Roberto Simonsen, e a
oposição agrarista decorrente da perspectiva liberal protagonizada
pelo economista carioca, Eugênio Gudin Filho.
O entusiasmo demonstrado inicialmente pelo governo de Dutra
(1946-1951) de retorno ao liberalismo da República Velha (1889-
1930) se mostrou verdadeiro “fogo de palha” frente à imediata e pro-
funda frustração econômica pronunciada pela liberação na política
econômica. Nem mesmo com a passagem fulminante de Gudin
pelo Ministro da Fazenda entre setembro de 1954 e abril de 1955
no governo de Café Filho, imediatamente após a morte de Getúlio
Vargas em 1954, permitiu que o liberalismo voltasse a triunfar exi-
tosamente na construção da sociedade urbana e industrial.
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