Page 138 - Quarentena_1ed_2020
P. 138

Papel do Estado


               No Brasil, o ideal liberal traduzido por Silvestre Pinheiro Ferreira
            e Hipólito da Costa no começo do século 19 teve como principais
            adeptos os segmentos voltados para a economia da exportação e
            importação, Na época, formada majoritariamente por latifundiá-
            rios e escravistas interessados na combinação das estruturas tra-
            dicionais de produção do agrarismo arcaico com o livre comércio.
               Essa perspectiva correspondeu a mais de um século de existên-
            cia, uma vez que se prolongou desde antes da Independência na-
            cional (1822) até o final da República Velha (1930). Sua persistência
            no tempo, capaz de superar tanto o ingresso no modo de produção
            capitalista, com a soltura legal dos escravos a partir de 1888, como
            a transição da Monarquia para a República, em 1889, somente se
            mostrou viável durante a predominância da sociedade agrária.
               Com a passagem para a sociedade urbano e industrial, a partir
            de Revolução de 1930, a ineficiência do Estado liberal tornou-se
            cada  vez mais explícita, incapaz de  justificar  a continuidade  do
            antigo e arcaico agrarismo. A incompatibilidade ficou ainda mais
            explícita ao final do Estado Novo (1937-1945) com a polêmica
            gerada entre a necessidade da industrialização do país, defendida,
            por exemplo, pelo líder industrial paulista Roberto Simonsen, e a
            oposição agrarista decorrente da perspectiva liberal protagonizada
            pelo economista carioca, Eugênio Gudin Filho.
               O entusiasmo demonstrado inicialmente pelo governo de Dutra
            (1946-1951) de retorno ao liberalismo da República Velha (1889-
            1930) se mostrou verdadeiro “fogo de palha” frente à imediata e pro-
            funda frustração econômica pronunciada pela liberação na política
            econômica. Nem mesmo com a passagem fulminante de Gudin
            pelo Ministro da Fazenda entre setembro de 1954 e abril de 1955
            no governo de Café Filho, imediatamente após a morte de Getúlio
            Vargas em 1954, permitiu que o liberalismo voltasse a triunfar exi-
            tosamente na construção da sociedade urbana e industrial.



            138
   133   134   135   136   137   138   139   140   141   142   143