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Como sempre, há um elemento de verdade na propaganda. Os
impostos aumentarão, mas as despesas totais deverão cair acentua-
damente, como mostra o registro de países comparáveis. Quanto?
Existem algumas estimativas sugestivas. Uma das principais revistas
médicas do mundo, The Lancet (Reino Unido), recentemente publi-
cou um estudo estimando que a assistência universal à saúde nos
EUA “provavelmente levará a uma economia de 13% nas despesas
nacionais em saúde, equivalente a mais de US$ 450 bilhões anual-
mente (com base no valor do dólar americano em 2017). ”
O estudo continua:
“Todo o sistema poderia ser financiado com menos recursos do
que aqueles nos quais incorrem os empregadores e as famílias ao
pagarem por prêmios de assistência médica, combinados com
as alocações governamentais existentes. Essa mudança para um
pagador único dos cuidados de saúde proporcionaria um maior
alívio para as famílias de baixa renda. Além disso, estimamos
que garantir o acesso à assistência médica a todos os americanos
salvaria mais de 68.000 vidas e 1,73 milhão de anos todo ano,
em comparação com o status quo.”
Mas isso aumentaria os impostos. E parece que muitos america-
nos preferem gastar mais dinheiro, desde que não paguem impostos
(matando, aliás, dezenas de milhares de pessoas anualmente). Essa
é uma indicação reveladora do estado da democracia americana,
como as pessoas a experimentam; e, de outra perspectiva, da força
do sistema doutrinário criado pelo poder comercial e seus serviçais
intelectuais. O ataque neoliberal intensificou esse elemento patoló-
gico da cultura nacional, mas as raízes são muito mais profundas e
são ilustradas de várias maneiras, um tópico que vale muito a pena
perseguir.
A forma como os países lidaram com a disseminação do novo
Coronavírus, dentro e fora do universo (neo)liberal ocidental,
também traz elementos reveladores sobre esta questão.
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