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conhecimento público, os estadunidenses obtém a maior parte do
seu petróleo e gás por meio do caro processamento do xisto betu-
minoso. A operação é viável economicamente desde de que o preço
esteja em um patamar elevado, o custo de extração não fica abaixo
dos 30 dólares o barril, às vezes muito mais caro do que isso.
O acordo da OPEP +, que estabeleceu a política de preço do pe-
tróleo entre os principais produtores do mundo encontrou seu fim
neste ano. A Rússia, participante do acordo, não o renovou e fez
cair de 70 para a casa dos 20 dólares o barril. Moscou entendeu que
os ganhos com o preço elevado estavam financiando a exploração
de petróleo estadunidense. Resolveu rebaixar suas próprias expec-
tativas de lucro na exploração de combustível com vista a garantir
a consolidação da sua estratégia no grande tabuleiro. Essa operação
tem um custo alto, para enfrentar as perdas, os russos passaram
a utilizar os 150 bilhões de dólares acumulados previamente no
fundo soberano do próprio setor petroleiro russo.
Tal fato, por si só, já teve implicações no mercado mundial em
geral e no setor financeiro em específico, que tem como forte âncora
a negociação de ativos vinculados ao setor petroleiro. A crise dos
preços dos combustíveis e a pandemia são eventos independentes.
No entanto, atuam de maneira convergente na aceleração da crise
econômica mundial.
#04 - Neoliberalismo: o funeral precipitado
O estado na maior parte do mundo tem assumido o protago-
nismo no combate ao coronavírus e na manutenção da renda das
famílias impossibilitadas de venderem sua força de trabalho. Este
fato tem um efeito desmoralizante para o pensamento neoliberal,
confronta a noção fundamental que advogam: a superioridade do
mercado em relação ao estado. No entanto, desmoralização não
será sua causa mortis.
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