Page 177 - Quarentena_1ed_2020
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Os resultados da pandemia podem prejudicar a reeleição de
Trump, mas a substituição por uma presidência democrata não é
uma alteração estrutural do poderio americano. Por outro lado, os
EUA têm conseguido recuperar o dinamismo fortemente afetado
em 2008 ao acirrar medidas protecionistas, o que tem melhorado
seus indicadores macroeconômicos. Trata-se, pois, de uma recupe-
ração que veio sem restabelecer o padrão aquisitivo das famílias, a
concentração de renda cresce e as desigualdades são acentuadas.
Mas isso não implica em perda de poder imediato.
A tendência declinante do poderio americano é fato histórico
em andamento, mas sua consumação não pode ser esperada pelas
consequências da pandemia. Ao que parece, o cenário provável é
que o crescimento geopolítico no campo econômico, militar, diplo-
mático e tecnológico de outros atores, em especial a China, irá criar
cada vez mais condicionamentos ao exercício do poder norte-ame-
ricano. Mas isso é uma marcha histórica longa, cujo o resultado
não pode ser esperado na vigência de uma única geração.
#06 - O falanstério mundial do pós-pandemia
Alguns defendem que a pandemia criará, por ela mesma, uma
consciência mais solidária na humanidade. Este cenário seria
plausível se fosse possível desconsiderar as relações de poder, os
instrumentos de controle e submissão exercidos pela minoria de
bilionários sob o conjunto da humanidade. A manifestação da soli-
dariedade esbarra nos interesses reais de quem concentra o poder.
Em tempos de crise, a maior parte dos governos optam por res-
ponder às demandas domésticas, até por métodos bárbaros, como
o confisco pirata de equipamentos e suprimentos médicos feitos
pelos EUA em cargas internacionais. A escassez e o medo revelam
o que há de pior na humanidade.
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