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#07 - Projetos Nacionais: A esperança possível


                  Independente da orientação política dos estados, a pandemia
               parece ser melhor respondida por países que preservaram um
               nível razoável de serviços públicos de caráter universal. Ou seja,
               a existência ativa do estado nas respostas às demandas da popu-
               lação determina o grau de eficácia observado no combate ao co-
               ronavírus, na maioria das situações. Um indicador que não está
               relacionado necessariamente a capacidade estritamente econômica
               de cada nação, mas ao compromisso social envolvido no arranjo
               institucional. Países que não chegaram a desmontar completamen-
               te o “estado de bem-estar social” edificado no pós-guerra, nações
               que mais recentemente se dedicaram a promoção de serviços pú-
               blicos à população são sem dúvidas as menos afetadas. Do Vietnã
               aos países nórdicos, da Coréia do Sul à Cuba, o padrão se repete.
               No Brasil, apesar do governo, o SUS resiste como uma porção do
               embrionário estado de bem-estar social pensado em 88, por sua
               própria capacidade institucional, técnica e de pessoal, tem conse-
               guido retardar o pesadelo.
                  Considerando  a  diversidade  de  experiências  e  situações  de
               ordem política, econômica, cultural e tecnológica presentes nos es-
               copos nacionais, o combate à pandemia deixará um legado menos
               traumático aos projetos nacionais que lograram incluir as deman-
               das populares e justificar a existência do estado pelo serviço presta-
               do a todos, e não a vantagem conferida a alguns.
                  Finalmente, tratei apenas de alguns aspectos da situação, aque-
               les que me parecem essenciais e genéricos. Deliberadamente pro-
               curei criticar aquelas abordagens que sugerem que a crise sanitária
               e econômica, de uma forma quase autônoma, inaugura o caminho
               para uma sociedade mais justa e igualitária ou abre as portas para
               um cenário distópico, e com isso desfoca o papel da política e da
               estratégia na solução dos problemas da humanidade.





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