Page 179 - Quarentena_1ed_2020
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#07 - Projetos Nacionais: A esperança possível
Independente da orientação política dos estados, a pandemia
parece ser melhor respondida por países que preservaram um
nível razoável de serviços públicos de caráter universal. Ou seja,
a existência ativa do estado nas respostas às demandas da popu-
lação determina o grau de eficácia observado no combate ao co-
ronavírus, na maioria das situações. Um indicador que não está
relacionado necessariamente a capacidade estritamente econômica
de cada nação, mas ao compromisso social envolvido no arranjo
institucional. Países que não chegaram a desmontar completamen-
te o “estado de bem-estar social” edificado no pós-guerra, nações
que mais recentemente se dedicaram a promoção de serviços pú-
blicos à população são sem dúvidas as menos afetadas. Do Vietnã
aos países nórdicos, da Coréia do Sul à Cuba, o padrão se repete.
No Brasil, apesar do governo, o SUS resiste como uma porção do
embrionário estado de bem-estar social pensado em 88, por sua
própria capacidade institucional, técnica e de pessoal, tem conse-
guido retardar o pesadelo.
Considerando a diversidade de experiências e situações de
ordem política, econômica, cultural e tecnológica presentes nos es-
copos nacionais, o combate à pandemia deixará um legado menos
traumático aos projetos nacionais que lograram incluir as deman-
das populares e justificar a existência do estado pelo serviço presta-
do a todos, e não a vantagem conferida a alguns.
Finalmente, tratei apenas de alguns aspectos da situação, aque-
les que me parecem essenciais e genéricos. Deliberadamente pro-
curei criticar aquelas abordagens que sugerem que a crise sanitária
e econômica, de uma forma quase autônoma, inaugura o caminho
para uma sociedade mais justa e igualitária ou abre as portas para
um cenário distópico, e com isso desfoca o papel da política e da
estratégia na solução dos problemas da humanidade.
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