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O que Bolsonaro tem em comum com o fascismo classico é o
autoritarismo, a preferencia por formas ditatoriais de govênro, o
culto do Chefe (“Mito”) Salvador da Patria, o odio a esquerda e
ao movimento operario. Mas nâo consegue organizar um parti-
do de massas, nem tropas de choque uniformizas. Tampouco tem
condiçôes, por enquanto, de estabelecer uma ditadura fascista, um
Estado totalitario, fechando o Parlamento e colocando fora da lei
sindicatos e partidos de oposiçâo.
O autoritarismo de Bolsonaro se manifesta no seu “tratamen-
to” da epidemia, tentando impor, contra a Assembleia, contra os
governos dos estados, e contra seus proprios ministros, uma politi-
ca cega de recusa das medidas sanitarias minimas, indispensaveis
para tentar limitar as dramaticas consequencias da crise (confina-
mento, etc). Sua atitude tem também traços de social-darwinismo
(tipico do fascismo): a sobrevivencia dos mais fortes. Se milhares
de pessoas vulneraveis – idosos, pessôas de saude fragil – virem a
falecer, é o prêço a pagar: “O Brasil nâo pode parar”!
Um aspecto especifico do neo-fascismo bolsonarista é o obscu-
rantismo, o desprêzo pela ciencia, em aliança com seus apoiadores
incondicionais, os setores mais retrogrados do neo-pentecostalis-
mo “evangelico”. Esta atitude, digna do terraplanismo, nâo tem
equivalente em outros regimes autoritarios, mesmo os que tem por
ideologia o fundamentalismo religioso (Irä!). Max Weber distin-
guia religiâo, baseada em principios éticos, e magia, a crença nos
poderes sobrenaturais do sacerdote. No caso de Bolsonaro e seus
amigos pastores neo-pentecostais (Malafala, Edir Macedo, etc) se
trata mesmo de magia ou de superstiçâo: parar a epidemia com
“oraçôes” e “jejuns”…
Embora Bolsonaro nâo tenha conseguido impor o conjunto de
seu programa mortifero, uma parte dêle - por exemplo, um relaxa-
mento do confinamento – talvez se imponha, atravez das imprevi-
siveis negociaçôes do Presidente com seus ministros militares ou
civis.
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