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contrariar os interesses dos grandes investidores e conglomerados
econômicos. Mais ainda quando o país é comandado por um
governo de ideologia marcadamente ultraliberal.
Magicamente, os 40 bilhões de contingenciamento ”inevi-
tável” para o primeiro semestre no Brasil deixaram de existir.
Magicamente, surgiram 600 a 1200 reais para garantia mínima de
sobrevivência das famílias. Magicamente, surgiram recursos para
a compra de dezenas de milhares de respiradores e para a criação
de leitos de UTI e novos hospitais. Magicamente descobriu-se o
óbvio: esses recursos sempre existiram, mas não eram utilizados
graças a decisões políticas, cujas motivações são bastante duvido-
sas, para sermos generosos. Justificativas, não ciência, não “técni-
ca”, não algo que deva ser situado fora do contexto democrático,
como muitas vezes se faz.
Por outro lado, o povo é saqueado com a aprovação de leis e
pacotes de resgate escandalosos que favorecem banqueiros,
como a “PEC do Orçamento de Guerra”, PEC 10/2020, que auto-
riza a compra de títulos podres dos bancos privados pelo Banco
Central, convertendo-os em dívida pública. Colocadas lado a lado,
as “ajudas” têm dimensões incomparáveis. Mais uma vez, utiliza-
-se a crise para validar decisões com consequências permanen-
tes de favorecimento dos super-ricos, em prejuízo das massas de
trabalhadores endividadas e precarizadas.
O suporte teórico de acadêmicos e think thanks muito bem
pagos que contribui para conferir um lastro de legitimidade ao
atual sistema também deve sofrer duro golpe.
Os preços negativos do petróleo atingidos em 20.04 – menos 40
dólares o barril, no caso do West Texas Intermediate (WTI) - um
dia antes do vencimento de seus contratos, escancaram o fato de
que a racionalidade econômica dos agentes do mercado, em es-
pecial do financeiro, não é muito funcional diante de cenários de
incerteza.
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