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Dentro do capitalismo não haverá mudanças profundas. No
máximo, uma concepção Estado-mercado menos desumana, em
que se atribua ao primeiro deste binômio maiores ferramentas para
a proteção dos mais vulneráveis, em situações de pandemia ou fora
delas. Naturalmente algo que não virá de graça, mas como respos-
ta para evitar um contramodelo que eventualmente ganhe força
diante das sociedades.
É o que houve nos EUA após a crise de 1929. Naquele contexto
histórico, havia um contraponto real ao modo de vida capitalista,
o que fez com que os próprios mediadores deste sistema, em seus
respectivos países, produzissem a resposta necessária para evitar “o
mal maior” – a ruptura, a revolução, o socialismo – produzindo o
que ficou conhecido como o Estado de Bem-Estar Social.
Roosevelt não acordou um belo dia, após a crise de 1929, e re-
solveu editar o New Deal. Nem Bismarck lançou os fundamentos
do Estado de Bem-Estar Social alemão, no final do século XIX,
sem que isso representasse uma reação ao perigo de crescimento
da ideologia socialista que ganhava corpo em seu país, a partir da
edição do Manifesto Comunista em 1848 – ou mesmo como uma
resposta aos social democratas, com quem disputava poder.
Em ambos os casos, as melhoras trazidas à maioria da popu-
lação em termos de regras trabalhistas menos opressivas (ou uma
suavização da exploração) e da garantia de um mínimo existencial
responderam ao perigo ao sistema que representava a conversão de
países ao socialismo – em última análise, o próprio fim do capita-
lismo para aqueles países.
O Welfare State foi um rearranjo conjuntural em resposta à crise
e à correlação de forças existentes naquele momento, até que as
forças do próprio sistema pudessem se reorganizar para perseguir
a lógica capitalista fundamental da maximização do lucro acima
de tudo - o que só foi possível a partir da década de 70, com a dete-
rioração do regime soviético e a ascensão do paradigma neoliberal,
com Reagan nos EUA e Tatcher no Reino Unido.
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