Page 76 - Quarentena_1ed_2020
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Foi nesse cenário que a Covid-19 se insinuou, a partir de Wuhan,
na China, e se difundiu velozmente, até se consolidar como pande-
mia reconhecida pela OMS, em 11 de março 2020. A história da
pandemia poderia ser intitulada “crônica de uma crise anunciada”.
Com efeito, a Covid-19 não representa um fato ou evento isolado
ou fortuito, senão um problema que emerge de condições ensejadas
por ações e omissões dos governos. Correm pelas redes sociais dis-
cursos de Bill Gates e Barack Obama, prevendo a irrupção de uma
pandemia, que poderiam ser incluídos como verbetes nas Centúrias
de Nostradamus. A Covid-19 era previsível e veio se somar a várias
zoonoses precedentes, como o SARS-CoV (2002), a gripe aviária
por H5N1 (2005), a gripe A por H1N1 (2009), o MERS-CoV (2012)
e o ebola (2014).
De acordo com algumas entidades sanitárias internacionais ,
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todas essas doenças decorrem do atual modelo de produção e ex-
ploração, que contamina a água, o ar e o solo com agrotóxicos,
microplásticos, metais pesados e gases tóxicos, impõe o desmata-
mento para a ampliação da fronteira agrícola, explora a criação de
animais em condições deploráveis, constituindo um meio de culti-
vo ideal para a gênese de mutações virais, como ficou demostrado
com a gripe aviária, a gripe suína e a SARS. A instalação e globali-
zação dos modos de produção extrativistas geraram alterações nos
processos metabólicos do planeta e a deterioração progressiva da
saúde das comunidades, com redução da capacidade e da resposta
imunológica humana em face de diferentes agressões.
Como resultado da imprevidência e da priorização dos inte-
resses neoliberais, a maioria dos países não estava minimamente
preparada para enfrentar a pandemia. Após resistências iniciais,
foram, paulatinamente, fechando suas fronteiras e decretando o
isolamento social. Aqueles que retardaram tais providências para
58 V. g. Instituto de Salud Socioambiental da Argentina.
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