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norte-americano é baixíssimo e é evidente a regressão social, a des-
peito de baixas taxas oficiais de desemprego.
Na livre economia de mercado, sem qualquer interferência do
Estado, apenas os mais ricos são favorecidos. O mercado não tem
o condão de se autorregular e a combinação de salários baixos e
endividamento familiar não pode gerar crescimento, que só é pos-
sível com distribuição de renda. O objetivo central de assegurar
lucros aos acionistas das grandes empresas impede a distribuição
de renda e enseja graves crises sociais de potencial explosivo.
Em 2014, a OCDE divulgou suas projeções para a economia
mundial até 2060. Em resumo, o melhor cenário: se os países cen-
trais conseguirem absorver 130 milhões de imigrantes em busca de
trabalho (necessariamente mais flexível), o crescimento mundial
vai se reduzir a 2.7%. A desigualdade global crescerá a 40%. Caso
contrário, será fatal a estagnação do Ocidente, um ritmo cada vez
mais lento de crescimento nos mercados emergentes e a provável
falência de muitos mercados .
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Após a crise de 2008, em apenas seis anos, a China dobrou
suas reservas internacionais, passando a 4 trilhões de dólares, em
2014, enquanto os Estados Unidos acumularam uma dívida de 6
trilhões de dólares com o resto do mundo, chegando a 300% do
PIB. Segundo Paul Mason, “tudo o que vem ocorrendo desde 2008,
por meio do armazenamento de reservas internacionais, deve ser
visto como os países superavitários lançando mão de políticas de
proteção contra um colapso norte-americano”. E acrescenta: “Se os
Estados Unidos não puderem continuar financiando suas dívidas,
em algum momento o dólar vai ruir” . O que dispararia o pro-
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cesso seria um ou mais países usarem protecionismo, manipulação
cambial ou calote da dívida. “Ou que uma crise de desglobalização
70 MASON, op. cit., pp. 64-66.
71 Ibidem, p. 56.
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