Page 84 - Quarentena_1ed_2020
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difícil canalizar ajuda financeira para trabalhadores com em-
pregos tão inseguros. Enquanto isso, um amplo afrouxamento
monetário pelos bancos centrais ajudará os ricos em ativos. Por
trás de tudo, os serviços públicos subfinanciados estão se des-
gastando com o peso da aplicação de políticas de crise.(....)
Reformas radicais - invertendo a direção política predominan-
te das últimas quatro décadas - precisarão ser colocadas sobre
a mesa. Os governos terão que aceitar um papel mais ativo na
economia. Eles devem ver os serviços públicos como investi-
mentos, e não como passivos, e procurar maneiras de tornar os
mercados de trabalho menos inseguros. A redistribuição estará
novamente na agenda; os privilégios dos idosos e ricos em ques-
tão. Políticas até recentemente consideradas inviáveis, como
renda básica e impostos sobre a riqueza, terão que estar entre
as propostas.
Ao que parece, excluídos o presidente brasileiro e seus minis-
tros, que praticam as premissas da Escola de Chicago nos dias cor-
rentes, mesmo antes da pandemia havia razoável consenso quanto
à inviabilidade do neoliberalismo no atual momento do capitalis-
mo. A ordem neoliberal foi rompida e outra precisa ser desenhada.
A pandemia de Covid-19 pode ter oferecido régua e compasso.
As reflexões sobre o mundo pós-neoliberalismo vêm apontando
algumas possibilidades. Em artigo publicado no El Desconcierto ,
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Roberto Pizarro comemora o retorno glorioso de Keynes e indica o
keynesianismo como único caminho a percorrer:
No curto prazo, a injeção maciça de liquidez na economia,
com renda para trabalhadores assalariados e informais, além
de empréstimos baratos para pequenos empreendedores, é a
única receita possível. Você não pode mais acreditar no funcio-
namento automático e infalível dos mercados. A perplexidade
76 Cf. Vuelve Keynes; el coronavirus derrotó al neoliberalismo. Disponível em https://
www.eldesconcierto.cl/2020/04/09/vuelve-keynes-el-coronavirus-derroto-al-
neoliberalismo/.
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