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decomunidade, desde que sejamos capazes de reconstruir a con-
fiança nasinstituições, o que impõe aos cidadãos maior controle
sobre os governantes .
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Provavelmente, ao falar em novo comunismo, Žižek deseje di-
ferenciar a experiência que, segundo ele, está por vir, do fracasso
das sociedades pós-capitalistas históricas, causado pela tentativa
de equilibrar a determinação “estruturadora do sistema herdado
pela imposição sobre seus constituintes fortemente antagônicos da
estrutura de comando extremamente centralizada de um Estado
político autoritário” , ao invés de remediar tal antagonismo por
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meio da “reestruturação interna e da instituição de um controle
democrático substantivo” .
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Porque, na linha sustentada por Mézáros, à luz da experiência
histórica, somente o socialismo “será capaz de conter e derrotar as
forças que hoje empurram a humanidade para o abismo da auto-
destruição” . Com efeito, “a cada nova fase de protelação forçada,
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as contradições do sistema do capital só se podem agravar, trazen-
do consigo um perigo ainda maior para a própria sobrevivência da
humanidade” .
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Ainda não se sabe o quanto o 1% mais rico e seus apoiadores
estarão dispostos a defender os mesmos preceitos centrais do neo-
liberalismo (financeirização, precarização do trabalho, militaris-
mo). Mas é certo que a superação do horror por ele patrocinado
passará pela “progressiva reaquisição pelos indivíduos dos poderes
80 Entrevista disponível em https://www.diariodocentrodomundo.com.br/vejo-um
-novo-comunismo-distante-do-comunismo-historico-brotar-do-virus-diz-slavoj
-zizek/.
81 MÉZAROS, op. cit., 103.
82 Ibidem, m.p.
83 Ibidem, p. 88.
84 Ibidem, p. 15.
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