Page 85 - Quarentena_1ed_2020
P. 85
das empresas privadas diante da crise colocou o Estado como o
agente fundamental para restaurar o sistema econômico.
A médio prazo, a lição do coronavírus é inevitável. Direitos so-
ciais universais em saúde, educação, moradia e pensões, conce-
didos pelo Estado. E, na esfera produtiva, transforme a matriz
produtiva de atividades primárias em indústrias e outros bens e
serviços que incorporam inteligência e tecnologia nos processos
de transformação.
Ainda que o keynesianismo se apresente como um bálsamo para
a crueldade neoliberal, à opinião de Pizarro pode ser contraposta
a observação de Mézáros , no sentido de que o keynesianismo é
77
por sua própria natureza conjuntural, porque opera no âmbito dos
parâmetros estruturais do capital. Por isso, segundo ele, mesmo no
apogeu, o keynesianismo apenas representou a fase “go” da lógica
“stop-go” do capital. Daí porque à longa duração da expansão key-
nesiana (os 30 anos gloriosos) se seguiu a fase de correção e contra-
-ação, na forma “dura e dolorosa” do neoliberalismo.
Em outra vertente, a cidade de Amsterdã anunciou que adotará
o “modelo donut” de economia, que tem por premissa a interrup-
ção da lógica do crescimento a qualquer custo, dando lugar à de
atendimento das necessidades humanas e de respeito aos limites
ambientais. O modelo mencionado foi proposto pela economista
britânica Kate Raworth no livro Doughnut Economics: Seven Ways
to Think Like a 21st-Century Economist.
De acordo com esse modelo , o anel interno do donut estabe-
78
lece o mínimo necessário para levar uma vida boa, derivada dos
objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU e acordada pelos
líderes mundiais de todos os matizes políticos. Qualquer pessoa
que não atinja esses padrões mínimos estaria vivendo no buraco
da massa. O anel externo representa o teto ecológico traçado pelos
77 Op. cit., p. 96.
78 Disponível em https://www.theguardian.com/world/2020/apr/08/amsterdam
-doughnut-model-mend-post-coronavirus-economy.
85