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O consenso em torno dessas pesadas políticas fiscais anticíclicas
se formou rapidamente entre todos os economistas, mesmo conser-
vadores. É o esforço que está sendo feito e liderado no mundo todo
pelos governos centrais. Menos no Brasil.
O dinheiro a ser liberado pelo governo para os cidadãos que fi-
caram sem fonte de renda tem que ser carimbado, em cartão espe-
cial da Caixa, só podendo ser gasto em empresas e estabelecimentos
que aderirem a um termo de compromisso de não demitir durante
o período. E o depósito compulsório só poderia ser liberado para
bancos que se comprometam a não cobrar juros durante o período
e a emprestar para as empresas que necessitam.
Há, no momento em que escrevo, R$1,35 TRILHÃO no caixa
único do tesouro nacional e mais de 300 bilhões de dólares em
nossas reservas. Parte disto está já liberado (o suficiente para três
meses da renda mínima, pelo menos equivalente a R$ 100 bilhões).
A outra parte está vinculada a fundos, exigibilidades financeiras,
regra de ouro, teto de gastos, enfim, travas institucionais perfeita-
mente removíveis por ação legislativa do Congresso Nacional ou
liminares judiciais praticáveis ante o estado de calamidade pública
já declarado.
A conta desse aumento de endividamento, no entanto, vai
chegar. E no momento em que ela chegar no segundo país mais
desigual do mundo, o nosso conflito distributivo se tornará mais
evidente e feroz.
O equilíbrio futuro de nossas contas pode ser facilmente alcan-
çado cobrando daqueles que sempre foram privilegiados na so-
ciedade semi-escravagista brasileira. Num país onde seis pessoas
detém a mesma riqueza que a metade mais pobre da população,
chegou a hora de pagarem a conta.
Deveríamos adotar o imposto progressivo sobre grandes fortu-
nas (que consta em nossa Constituição e nunca foi regulamentado),
mesmo que, provisoriamente, cobrando algo entre 0,5% sobre pa-
trimônios superiores a R$22 milhões de reais, aumentar o imposto
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