Page 58 - Quarentena_1ed_2020
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E como podemos ver agora, de repente o mundo inteiro recorre, no-
vamente, ao keynesianismo. A Europa pede um novo Plano Marshall.
Os EUA pedem um novo New Deal. É claro que nós, no Brasil, temos
que pedir um novo plano de recuperação como o de Vargas, em 30.
O que essa crise deixa claro é que o Estado terá que liderar os
esforços de empresas e indivíduos para que a sociedade não co-
lapse. Isso é verdade tanto no enfrentamento inicial da pandemia,
quando no enfrentamento à crise que se seguirá a ela.
Uma oportunidade para a mudança
Queria, nos entanto, deixar aqui uma mensagem de esperança
nesses dias tão doídos para a humanidade.
Muito me marcaram as palavras do Papa Francisco para uma
Praça de São Pedro deserta: “Na nossa avidez de lucro, deixamo-
-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos de-
tivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e
injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso
planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando
que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente.”
A longo prazo, minha esperança é que essa pandemia ajude a
maioria da humanidade a descobrir que já estávamos vivendo numa
grande tragédia mais profunda: a da cultura do consumismo irracio-
nal misturada com o neoliberalismo criador da super desigualdade.
Talvez, isolados em casa, obrigados a viver com muito menos
consumo mas muito mais tempo para a família, menos desloca-
mentos, o mundo aprenda não só que muito do que se faz hoje nos
trabalhos pode ser feito de dentro de casa, mas principalmente, que
o excesso de bens materiais não está nos tirando só dinheiro, mas,
como diz Pepe Mujica, o tempo para mantê-los.
Nas últimas décadas, transitamos de um padrão de busca da
felicidade no ambiente subjetivo, espiritual, como a busca da justiça
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