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maior utilidade para as pessoas e que, portanto, podem ser ven-
            didos pelos maiores preços. Isso fará com que, ao concentrar seus
            esforços em atender a essa utilidade buscada pelos compradores,
            o mercado concentre também seus esforços em atividades que são
            úteis para a vida das pessoas (e em tese a melhoram). Ao oferecer
            um lucro cada vez maior para aqueles que se dedicam a oferecer,
            com a própria empresa, esses produtos e serviços, essas atividades
            irão atrair uma competição de novos interessados em participar
            desses grandes lucros. E é essa competição que fará com que a de-
            manda pelos insumos, entre eles a mão de obra utilizada para con-
            feccionar esses produtos, também cresça. Com uma maior deman-
            da, o preço desses insumos crescerá, consumindo parte do lucro
            que antes ficava concentrado nos donos das empresas e o distri-
            buindo para toda a cadeia. Esse “transbordamento” do lucro que
            inicialmente concentra-se no dono do capital, mas que depois, ao
            longo do tempo e através da competição pelas atividades de maior
            lucro, é distribuído por toda a cadeia, é o que a teoria econômica
            chama de trickle-down economics. E é através desse mecanismo que
            o capitalismo consegue ao mesmo tempo maximizar a utilidade
            oferecida com seus bens e serviços à sociedade e ao mesmo tempo
            distribuir riquezas de maneira justa e meritocrática (de acordo com
            os méritos de cada um ao longo do processo). É inegável que é uma
            bela e bem construída história.
               O problema é que o resultado real parece ficar bem longe do que
            a teoria é capaz de prever. Pelo menos no que diz respeito ao lucro
            do sistema ser distribuído de maneira meritocrárica e ao mundo
            maximizar a “utilidade” das pessoas ao estabelecer o lucro como
            fio condutor da economia. E não é preciso grandes exercícios ou
            estudos para demonstrar este fracasso.
               Cerca de metade dos quase 8 bilhões de habitantes do planeta
            vivem abaixo da linha da pobreza., definida atualmente como uma
            renda inferior a 5,50 dólares por dia. E o motivo não parece ser a falta
            de riqueza para ser distribuída, visto o crescimento exponencial da



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