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nazista, seria a visão de que esses supostos fortes não teriam conta-
            to com os “fracos”. Ora, como se faz isso na prática? O governo vai
            dar casas para as pessoas, para quem tem algum tipo de imunode-
            ficiência ou para os idosos? É uma insensatez. É um descompro-
            misso com a seriedade que deve inspirar o Presidente da República.
               Na verdade, só há duas posições possíveis neste momento:
            adotar a prudência, em defesa de medidas preventivas, ou normali-
            zar as mortes dos cidadãos, como o próprio Bolsonaro fez, ao afir-
            mar, recentemente: “bom, haverá mortes, mas paciência... é assim
            mesmo”, quando o que se impõe ao chefe de Estado é o dever de
            respeitar a memória das vítimas e as suas famílias.
               Por outro lado, há uma deficiência de oferta de insumos de
            saúde, respiradores, de kits de testagem, que evidencia dificulda-
            des administrativas causadas pela premissa política de indiferença
            quanto a tragédias. Isso ocorre, em grande parte, em razão da au-
            sência de orientações corretas por parte do Presidente da República
            e da falta de um planejamento organizado, de modo a antever os
            cenários de dificuldades que estamos a passar.
               O mesmo ocorre no terreno econômico. O negacionismo profes-
            sado por Bolsonaro durante semanas fez com que o governo brasi-
            leiro tenha sido o último a anunciar medidas econômicas de apoio
            às famílias, após até das anunciadas por Donald Trump, nos Estados
            Unidos. Todos os países estão concretizando-as e ainda estamos em
            um ritmo muito lento para dar uma assistência real à população mais
            vulnerável aos efeitos da crise, mesmo que o Congresso Nacional
            tenha aprovado com celeridade a Lei da Renda Básica.
               Em relação ao Pacto Federativo, a má vontade e o boicote polí-
            tico são evidentes. O presidente convidou governadores para reu-
            niões regionais e todos compareceram, numa prova de cortesia e
            de colaboração para buscar soluções aos problemas nacionais. No
            dia seguinte, contudo, Bolsonaro desfez tudo que havia proposto
            no que se refere ao clima de entendimento e de diálogo. Isso tem
            consequências. Ele aponta diretrizes ao seu núcleo mais fiel, que



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