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sabe gerir a máquina pública. Sem a confusão, evidencia-se a sua
            brutal carência administrativa.
               No enfrentamento da patologia política, o impeachment é
            uma possibilidade. O material para propositura de uma demanda
            por crime de responsabilidade é bastante farto, lamentavelmen-
            te.  Diariamente,  são  praticados  atos  por  parte  do  presidente  da
            República que se amoldam às figuras de Crime de Responsabilidade
            descritas tanto na Constituição quanto na Lei 1.079/1950. Desde a
            quebra cotidiana de decoro, que se espera de um chefe de Estado, até
            a tentativa de coagir outros Poderes do Estado e coagir os entes da
            Federação, mediante ameaças. É preciso tratar disso juridicamente.
               É  difícil  imaginar  que Bolsonaro  vá mudar sua  conduta.  Se
            diante de mortes; de milhões de pessoas aterrorizadas; de profis-
            sionais de saúde em risco; de um colapso sanitário e econômico, ele
            não muda, o que o fará ter bom senso? “Não sou coveiro”, avisou
            Bolsonaro ao ser questionado sobre a quantidade de mortes no país
            por Covid-19. Não adiantarão chamados ao bom senso de quem
            não acredita em bom senso. Há um limite do que pode ser suporta-
            do. Esse estresse institucional e social a que o Brasil está submetido
            é tendencialmente insuportável.
               Temos que trabalhar incessantemente nisto que denomino
            frente ampla, que alguns confundem erroneamente com alian-
            ças eleitorais. Frentes amplas têm sido exemplarmente feitas pelos
            parlamentares do campo nacional-popular, assegurando vitórias
            como a Lei da Renda Básica (Lei Suplicy) e conduzindo resistências
            vitais à redução de danos, como a rejeição da ampliação do con-
            ceito de legítima defesa no âmbito do “Pacote Anticrime” enviado
            pelo Governo Federal.
               O próprio empresariado brasileiro, em seus setores mais lúcidos,
            já viu que essa política externa desastrada, que envergonha as tra-
            dições da Casa de Rio Branco, conspira contra os interesses econô-
            micos do Brasil. Veja-se o desastre diplomático da confusão com a
            China: o risco que isso representa às exportações brasileiras e até ao



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