Page 185 - Quarentena_1ed_2020
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emergencial minimamente digno para sobreviver, sem um sistema
de saúde sólido e sem um sistema previdenciário público (destro-
çado pelo governo Bolsonaro) como será possível superar esta fase
hedionda na qual a pandemia do coronavirus e a toxidade do capi-
tal se intensificam?
Assim, é importante destacar que essa tragédia social não é
causada pelo coronavírus, ainda que seja amplificada exponencial-
mente pela pandemia. Isto porque a tragédia social antecede a atual
situação pandêmica. Se comparamos, por exemplo, com alguns
países escandinavos, onde os índices de trabalho informal e preca-
rizados são menores, a classe trabalhadora pode se resguardar em
casa e continuar percebendo seus salários, além de serviço público
de saúde com qualidade. Nos países da periferia, como o Brasil,
os trabalhos informais e precários são jogados nas ruas, sendo que
as mulheres-trabalhadoras, os negros e os imigrantes são mais
duramente atingidos. Nos países da América Hispânica, como a
Equador, Bolívia, Colômbia, Peru etc, por exemplo, o alvo preferen-
cial são os/as trabalhadores indígenas.
Estamos, portanto, a beira de um colapso social profundo, seno
o capitalismo, em sua variante ultraneoliberal, ainda mais corro-
sivo. E as empresas e suas burguesias vão tentar impor, uma vez
mais, o que sempre fizeram: para recuperar seus níveis de lucro e
acumulação, vão transferir todo o ônus da crise para a classe traba-
lhadora. Por conta disso, os desafios que teremos pela frente serão
de grande monta, se quisermos combater e confrontar toda a toxi-
dade e letalidade do sistema de metabolismo antissocial do capital.
III
Há, desde logo, um ponto que considero muito importante, que
está presente nas ações que a classe trabalhadora está fazendo para
sobreviver nas periferias, nos bairros operários e nas comunidades
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