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O  segundo  pilar  ideológico  está  expresso  nas  manifestações
            de diversas origens sobre a relação entre a “vida” e a “produção”,
            o “comércio” e o “isolamento”, através das quais a irracionalida-
            de olavista começa a tomar proporções de massa. Nesta dimensão
            gera aquele estado “natural”, onde a morte de alguém (sempre dos
            “outros”) é um detalhe, e o que “vale” é a preservação do objetivo
            final, que hoje encontra resistência em grupos que deveriam estar
            “desarmados” e que, para Olavo de Carvalho, não estão: os milita-
            res “isentões” que, independentemente das suas preferências ideo-
            lógicas não são fascistas, não desistiram de um projeto de nação e
            não compactuam com a demência no poder.
               Tratado como “conspiração chinesa” ou “histeria da imprensa”,
            o posicionamento científico da OMS, em defesa do isolamento, vem
            sendo paulatinamente tornado irrelevante pelas redes bolsonaris-
            tas, associadas de forma criminosa a burocratas e empresários, que
            levam o seu egoismo de classe ao seu momento mais elevado: o da
            simplificação aterradora, que pode nos custar milhares de mortes
            e uma crise econômica ainda mais brutal, do que aquela que já
            nos espera. O voluntarismo egocentrado do Presidente é o grande
            motor político da ideologia olavista, que transforma a instrumen-
            talização da vida num episódio de curto prazo para o mercado.
               A modernidade tardia fendida pelas religiões do fanatismo e do
            dinheiro geraram um Jim Jones, num mundo isolado que funcio-
            nava analogicamente. Tudo indica que a falência – ou pelo menos a
            suspensão das utopias da igualdade real e da solidariedade humana
            irrestrita (na época das redes e das relações globais comutativas),
            estão gerando monstros bem mais cruéis.
               Jim Jones pelo menos pedia a morte e o suicídio para o encon-
            tro com Deus, mas os monstros de hoje consideram os mesmos
            caminhos apenas para salvar seus negócios e seus mercados atuais,
            mesmo que isso signifique – à médio prazo – a sua ruína final.
            Esquecem que a barbárie tem um vírus que atravessa fronteira de
            todas as classes, não é ideológica nem necessariamente seletiva.



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