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Há níveis diferentes em que essas escolhas operam. Muitas
               delas, mesmo sem questionar as bases de convívio social, já fariam
               enorme diferença em momentos como esse.
                  Apostar na melhor distribuição da renda é um exemplo. O im-
               posto sobre grandes fortunas caminha nessa direção. Ainda assim,
               nem mesmo em tempos de crise sanitária aguda o tímido projeto
               de lei proposto para regulamentar esse dispositivo constitucional
               tem despertado interesse dos nossos parlamentares. Passados mais
               de trinta anos desde a promulgação da Constituição, a taxação de
               grandes fortunas ainda não saiu do papel.
                  Há também como alterar o modo de distribuição dos recursos
               públicos. Impostos devem servir para garantir saúde, educação,
               moradia e trabalho, e não para pagar dívida pública. E proprie-
               tários de templos, lanchas, jetskys e helicópteros podem e devem
               pagar impostos, assim como as emissoras de rádio e TV, que são
               concessões públicas, não devem ganhar isenção de tributos em
               razão do horário de propaganda eleitoral.
                  Segundo o TCU, em 2016 as renúncias fiscais somaram R$ 354,7
               bilhões. Em 2015, o INSS deixou de arrecadar pelo menos R$ 30,4
               bilhões, em razão de sonegação e inadimplência. Por que não solu-
               cionar esse gargalo?
                  A reforma agrária é outro exemplo eloquente. Nunca foi feita
               em nosso país. Ao contrário, segundo o IBGE 1% das propriedades
               agrícolas ocupa quase metade da área rural brasileira, concentra-
               ção de propriedade privada que vem crescendo ano a ano.
                  Várias outras questões podem ser levantadas, como a aposta
               necessária em saúde e educação públicas de qualidade, o exato
               contrário do que estamos fazendo nos últimos anos. Se não há sa-
               neamento básico, alimentação adequada, moradia decente, se não
               há trabalho seguro com salário digno, se não há investimento em
               ciência, saúde e educação, como enfrentar uma pandemia?
                  Essas questões precisavam estar na ordem do dia, mesmo que
               não houvesse uma nova doença que em cerca de três meses já



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