Page 220 - Quarentena_1ed_2020
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m tempos de pandemia não há como falar de outra coisa. A
            ECOVID-19, provocando um número assustador de adoe-
            cimentos e mortes pelo mundo todo, desafia nossas escolhas e
            impõe uma reflexão que rejeite o argumento do inimigo invisível
            comum. Temos que agir para combater a disseminação do vírus.
            Evidentemente precisamos aderir à ideia de isolamento físico e
            nesse sentido dar suporte até mesmo às campanhas midiáticas que
            reduzem o esforço conjunto a algo do tipo “todos contra o vírus”.
               O que precisamos refletir, porém, é sobre o fato de que nosso
            verdadeiro inimigo não é o novo coronavírus. Aliás, é muito pro-
            vável que ele não seja o último nem o mais agressivo que enfrenta-
            remos. Certamente, não é o primeiro.
               O que realmente nos coloca, como civilização, em posição de
            absoluta fragilidade diante dessa doença, é um conjunto de esco-
            lhas políticas que a sociedade está fazendo já há muito tempo. Essas
            escolhas nos trouxeram até aqui. São os seres humanos, portanto,
            que agindo de modo predatório em relação à natureza e aos seus
            pares, estão tornando a vida na Terra um desafio.
               Outras civilizações já passaram por isso. Foram dizimadas.
               O primeiro caso da COVID-19 foi diagnosticado em uma pessoa
            que estava em Wuhan, uma cidade chinesa com mais de 10 milhões
            de habitantes, um pólo industrial especializado em “ótica-eletrôni-
            ca, automóveis, ferro e aço, indústria farmacêutica e pesquisas em
            tecnologias de eficiência energética e energia renovável”. Wuhan
            “tem quatro parques de desenvolvimento científico e tecnológico,
            mais de 350 institutos de pesquisa, 1.656 empresas de alta tecno-
            logia, inúmeras incubadoras de empresas e investimentos de 230
            empresas da Fortune Global 500. Produziu um PIB de 224 bilhões
            de dólares em 2018”. Essas informações obtidas em rápida consul-
            ta à internet tornam nítido o caráter de fina ironia que a doença
            assume…. ela surge (ou pelo menos é pela primeira vez identifica-
            da) em um dos corações do capital.





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