Page 253 - Quarentena_1ed_2020
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consumidores, fabricando enormes bolhas financeiras que sempre
explodem em algum momento, tornando o sistema ainda mais tur-
bulento e instável. Sem falar que a necessidade de se produzir mais
mercadorias para compensar a diminuição das margens de lucro
está levando o planeta a seus limites ecológicos.
A oportunidade pós-capitalista
A crise do coronavírus e sua necessidade de quarentena, impos-
ta, desta vez, pelas leis biológicas do grau e velocidade de contá-
gio do vírus, nos oferece a oportunidade de ver o quanto nossas
necessidades humanas são relativas. Nossa vida não se resume a
necessidades alimentares, habitacionais e de saúde. Precisamos uns
dos outros, de conviver em família e com nossos amigos, de eventos
formais ou informais, festas, cerimônias etc. Mas em que medida e
como fazemos tudo isso pode variar muito.
Por exemplo, a quarentena nos mostra que podemos passar
muito bem sem andar de automóvel o tempo todo. Que o básico
para nossa sobrevivência pode ser produzido com pouquíssimas
horas de trabalho humano. Afinal, com a tecnologia que temos,
umas poucas pessoas em atividade cuida das necessidades de quase
todo mundo. E boa parte de nossa sede de consumo parece extre-
mamente supérflua.
Aliás, se diminuirmos nossa sede de consumo e dividíssemos de
forma equivalente o tempo dedicado à produção de bens e serviços
necessários a uma vida não consumista, talvez cada um de nós não
precisasse “trabalhar” mais do que meio período por dia e apenas
uns três ou quatro dias da semana. O resto seria nosso tempo, para
dormir, passar com a família e os amigos, fazer o que se gosta, se
reunir, pensar, meditar, amar, brincar, andar por aí etc. Enfim po-
deríamos ser, existir para além das obrigações do trabalho e das
leis do capital. Como o consumismo estaria abolido, nosso tempo
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