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Afinal, a economia não é como a física, cujas leis naturais são
incontornáveis, não é mesmo? E novamente, as boas intenções pro-
gressistas, nos fazem retornar ao problema inicial de onde parti-
mos neste artigo: será que os rumos da economia capitalista são
mesmo uma questão de vontade política? E será que os keynesia-
nos/progressistas acreditam nisso de fato? Acabamos de mostrar
que os progressistas são, na verdade, mais pragmáticos que os li-
berais puro-sangue, o seja, que suas receitas econômicas interven-
cionistas tornam o país e suas empresas mais ricos, mais adaptados
(mais fortes) para sobreviver na dura seleção “natural” do mercado
mundial.
Se é assim, na hora do “vamos ver” será que os keynesianos/
progressistas irão mesmo além da simples adaptação e tentarão
mudar a direção “natural” do capitalismo global, elaborando leis
para aumentar salários e direitos trabalhistas, tributar lucros e
renda progressivamente, gastar com renda mínima e proteção de
vulneráveis? A Alemanha vai olhar para a China e outros emer-
gentes asiáticos e se perguntar: eles vão encarecer os custos para a
produção com aumentos de salários, direitos e tributos? Duvido!
Eu também não vou. O mesmo dirão os EUA e a própria China. E
todos os demais países.
Como dissemos antes, por mais boa vontade que se tenha, as
leis do capital (entre elas a da concorrência, que premia os capitais
mais eficientes em gerar lucro, barateando ao máximo os custos do
trabalho) embora sejam sociais, uma vez postas em movimento se
parecem com as leis naturais em sua objetividade, inevitabilida-
de e poder de coerção: se um indivíduo, empresa ou estado não se
“adaptar”, ou seja, não se tornar competitivo, ficará para trás e se
espatifará no abismo da quebradeira ou da miséria, como um avião
cai quando lhe falta combustível.
O keynesianismo nunca propôs a suspensão das leis “natu-
rais” do capital, mas apenas a adaptação da nação a ela, para que o
estado se torne competitivo e rico. E, se possível, que haja uma boa
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