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distribuição interna da riqueza proporcionada pela vitória sobre as
               outras nações, mesmo porque a redução da desigualdade alivia as
               tensões sociais e cria um mercado interno dinâmico. Mas se não for
               possível distribuir renda para se formar uma grande classe média,
               como no keynesianismo clássico, que pelo menos se garanta, em
               nome da paz social, a empregabilidade plena, mesmo que sejam
               empregos precários, com salários baixos e jornadas estafantes,
               como acontece com o keynesianismo selvagem da China, que está
               sendo copiado por EUA, Alemanha e outras nações industriais.
                  Sem falar que os keynesianos raramente tocam no assunto da
               substituição de pessoas por máquinas (robôs, IA, computadores,
               big data, internet) como forma de aumentar a produtividade e que
               diminui a necessidade de trabalho humano. E, desta vez, a tendên-
               cia é que o aumento da produtividade não proporcione abertura de
               novos postos de trabalho bem remunerados em quantidade sufi-
               ciente para repor os postos perdidos – e quem afirma isso não são
               críticos marxistas “radicais”, mas estudos científicos mainstream.
                  Como retornar aos bons tempos do keynesianismo humanista
               (o Primeiro Mundo de 1945-1975) se as leis da competitividade e da
               produtividade coagem estados e corporações a reduzirem os custos
               do trabalho, ou barateando o trabalho humano ou substituindo-o
               em larga escala por máquinas?
                  Há competição ferrenha entre estados nacionais por empre-
               sas industriais, de preferência nacionais, que empregam cada vez
               menos pessoas, mas que ainda representam a melhor possibilidade
               de riqueza e empregos diretos e indiretos, mesmo que precários.
               Nesta competição, o investimento num estado do bem-estar é uma
               questão de custo-benefício. A paz social, a educação e a saúde das
               pessoas são um ativo importante para o mercado, mas se deve in-
               vestir apenas o mínimo necessário nestas áreas, pois há também
               os investimentos indispensáveis em infraestrutura. E todos estes
               gastos necessários do estado são retirados da tributação do capi-
               tal, que também deve ser a menor possível, para que os capitais



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