Page 247 - Quarentena_1ed_2020
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nações industriais, como EUA e Alemanha, cujas “flexibilizações”
do trabalho vão sempre na direção de seu barateamento e precari-
zação – escrevi sobre isso no artigo A China é o modelo a seguir?.
A crise como oportunidade para a volta de um
keynesianismo humanitário
Agora, na crise do coronavírus (mas foi assim também em 2008)
os progressistas/keynesianos acham que é hora de nos decidirmos
politicamente por um capitalismo mais humanitário, de colo-
carmos freio na insensatez do neoliberalismo fanático, a la Levy/
Meirelles/Guedes, mas também no keynesianismo selvagem ao
estilo chinês e que se espalha para a Europa e os EUA, minando
o estado do bem-estar social. É hora de voltar a distribuir o capi-
tal para o povo, repovoando as nações com uma forte e numerosa
classe média, investindo em ensino e saúde públicos, universais e
gratuitos, em programas de renda mínima para os desassistidos,
na proteção efetiva do meio ambiente (nosso suporte de vida) e no
amparo às minorias e mais vulneráveis. É hora, enfim, do estado
intervir na economia não apenas a favor das corporações, como faz
o keynesianismo selvagem chinês, mas para democratizar de fato
o capital, como nos bons tempos do keynesianismo do pós-guerra.
O coronavírus está mostrando como o neoliberalismo fracassa
quando se trata de proteger a vida das pessoas, seja na versão funda-
mentalista dos Chicago Boys, seja na versão pragmática do keyne-
sianismo selvagem chinês. O capital e suas leis (o lucro, o trabalho
assalariado, a eficiência produtiva) devem servir ao bem-estar das
pessoas e não o contrário. Precisamos nos decidir coletivamente
em direção a essa humanização do capitalismo. É preciso voltar ao
ideário progressista social-democrata, que manda a política colocar
um cabresto na economia, para que ela seja um instrumento para
bem-estar humano e não o contrário, como vem acontecendo.
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