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pais perdedores na competição capitalista) tenham proteção social
            para que seus filhos tenham condições de sair da condição de mi-
            séria. Ora, esta proposta nada mais é do que a execução das ideias
            liberais de chances iguais para todos. De fato, os progressistas
            acusam os neoliberais de defenderem a ideia mas não a colocarem
            em prática, ao deixar os perdedores e seus filhos “ao Deus dará”,
            reproduzindo a miséria por inércia histórica.
               2. Propõem, por questões humanitárias, que haja socorro digno
            para os perdedores, principalmente para os que não podem con-
            correr no mercado, como idosos, doentes, deficientes, dependentes
            químicos, mendigos, mas também os desempregados estruturais
            que se tornam supérfluos para o mercado e são obrigados a se vira-
            rem na economia informal de bicos. Novamente, não há desacordo
            com posições liberais, a não ser as mais fanáticas. Aliás, muitos
            liberais insuspeitos, como Milton Friedman, propõem uma renda
            mínima por questões humanitárias e para evitar convulsões so-
            ciais que abalariam o bom funcionamento dos mercados. Mesmo
            porque ela ajudaria, num círculo virtuoso, nos esforços para pro-
            porcionar condições iniciais igualitárias, ao permitir que as famí-
            lias perdedoras proporcionassem o mínimo necessário para uma
            boa formação de seus filhos, permitindo-lhes que sejam, quando
            adultos, competidores aptos no mercado de trabalho.
               3. Defendem uma forte regulação do mercado por parte do
            estado e até mesmo a atuação direta na economia por meio de em-
            presas públicas, estatização e monopólio de alguns setores conside-
            rados estratégicos. O argumento (correto) é que a autorregulação
            do mercado é turbulenta demais, provocando crises sociais e polí-
            ticas insuportáveis. Este é o único ponto em que os keynesianos di-
            vergem frontalmente das teorias liberais e neoliberais que pregam
            a autorregulação dos mercados. Mas o fato é que, exceto em rarís-
            simas e desastrosas ocasiões, nem os governos mais abertamente
            liberais efetivamente abrem mão da atuação do estado como regu-
            lador e participante direto da economia. Nos EUA, farol neoliberal



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