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A crítica dos progressistas aos neoliberais
Os economistas progressistas (também chamados de keynesia-
nos, desenvolvimentistas ou heterodoxos) veem outro tipo de opor-
tunidade nesta crise, menos egoísta e mais solidária. Eles apontam,
com razão, a loucura neoliberal de nos submetermos incondicio-
nalmente às leis do livre mercado, que dizem apenas que a econo-
mia não pode parar.
Para os progressistas o mercado é impiedoso e volátil demais
para ser deixado à própria sorte e por isso a sociedade deve regulá-
lo por meio do estado, para evitar crises e, se estas ocorrerem, para
socorrer os mais vulneráveis. Eles acreditam, como afirma Anjuli
Tostes em artigo recente, que “a economia não é algo separado da
escolha das pessoas, como a física ou a química. Ela é uma constru-
ção social, produto das nossas escolhas”. Esta posição da deriva da
crença progressista de que o arranjo da economia no capitalismo
depende de escolhas políticas coletivas, ou seja, que a política pode,
em última análise, definir os rumos da economia.
Afinal de contas, as leis do mercado não são como as da física,
como a autora afirma. De fato, a necessidade de lucro efetivamente
não é como a lei da gravidade. Mas os empresários, aqueles que efe-
tivamente estão expostos às “leis do mercado”, rebatem que se eles
deixarem de ter lucro por um certo tempo, vão cair, junto com seus
empregados, no abismo econômico da falência, da mesma forma
que um avião se espatifa no chão, com tripulação e passageiros,
quando acaba seu combustível.
O lucro para as empresas continuarem no mercado é como a
gasolina para um avião vencer a gravidade: quem não tem lucro
despenca. Da mesma forma é o trabalho remunerado para a imensa
maioria das pessoas: ele é a passagem para se estar dentro de um
avião. Se você não consegue trabalho, sinto muito, será jogado
ao ar em pleno voo. Em alguns países há bons paraquedas para
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