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com as contas no fim do mês agem sob a coação do capital. O fato
               de serem vitoriosos não dá a eles o controle do sistema, embora
               tenham mais poder de influência política do que qualquer um de
               nós, zés ninguéns econômicos. Mas este poder decisório das elites
               é localizado e não sistêmico, além de ser sempre precário e cons-
               tantemente ameaçado por mudanças de mercado, por rearranjos
               geopolíticos, pelo surgimento de “novos players” mais poderosos,
               pela obsolescência de seus produtos ou ramo de negócio etc.
                  O que impera mesmo no capitalismo são as leis “naturais” do
               capital, que coagem tanto os predadores (1%) quanto suas presas
               (99%), quase da mesma forma que as leis biológicas coagem igual-
               mente os organismos do vírus e os nossos, obrigando-nos a nos
               adaptarmos a elas, recolhendo-nos à quarentena e buscando medi-
               camentos e vacinas para enfrentarmos a praga.
                  A diferença entre o vírus e o capital é que, em relação ao primei-
               ro, não podemos suspender, por vontade própria, as leis naturais,
               reorganizando a natureza de forma a não haver mais vírus a nos in-
               fectar ou que, pelo menos, infectem apenas os “comunistas”, como
               gostariam os trumpistas e bolsonaristas. Quanto ao capital, como
               se trata de uma forma social, há a possibilidade de suspendermos as
               suas leis. Podemos mesmo extingui-lo.
                  E há precedentes históricos de vida humana sem capital, pois
               na maior parte das sociedades do passado não havia dinheiro, nem
               lucro, nem mercado, nem trabalho – em muitas não havia nem
               mesmo estado. Não estou sugerindo uma volta a um passado su-
               postamente paradisíaco, não se trata do sonho idílico de nos tor-
               narmos índios adâmicos, com se não houvesse violência e sofri-
               mento nas sociedades tribais. De resto, mesmo que quiséssemos,
               é impossível restaurar culturas passadas que, no máximo, podem
               nos inspirar em alguns aspectos admiráveis, como a recusa em do-
               minar os outros povos e a natureza – embora essa recusa ao domí-
               nio geralmente não implicasse na recusa à violência e à guerra entre
               as tribos.



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