Page 55 - Ação integrada de formação de professores
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2 MARCO TEÓRICO
Se quisermos pensar sobre questões fundamentais de nossa vida, como a da educação,
da política, do trabalho, dentre outras, somos levados a pensar acerca da condição humana. É a
reflexão sobre essa condição que permite pensar, pelo menos de forma mais ampla e criteriosa,
acerca das possíveis razões que nós humanos temos para educar as novas gerações, elegermos
determinados modos de organização da vida coletiva, adotarmos determinadas formas de
intervenção no meio natural ou assumirmos determinadas posturas de conduta pessoal.
Em todo caso, a busca de respostas às diferentes questões que a vida nos coloca conduz
ao fato de termos um mundo humano que nos faz uma espécie diferenciada em relação às
outras espécies animais. E o que significa termos um mundo humano? Como ele se tornou
possível?
Ao desenvolver a capacidade de modificação dos padrões de interação com o meio e
com os outros, a espécie humana revelou-se uma espécie aberta, já não mais acabada, mas com
possibilidades de fazer-se e de refazer-se continuamente. Esse fazer-se e refazer-se se expressa
como possibilidade de aprender, como possibilidade de transcender a determinação instintiva.
Enfim, os humanos se inventaram e, por isso, necessitam continuar se inventando, com o que
vão constituindo o mundo humano.
O mundo humano, portanto, resulta dessa capacidade de nós humanos, de transcender
a determinação instintiva, de produzir modos de ser e de interagir “por sobre e em tensão”
às inclinações biológicas. Um mundo que se constituiu exatamente porque essa relação com
os outros e com as coisas deixou de ser meramente reflexa, uma simples reação instintiva aos
seus estímulos, tornando-se, por isso, intencional e deliberativa. Assim, “mundo” não pode ser
confundido com “espaço natural”. É nesse sentido que só os humanos têm mundo.
Assim, o mundo humano compreende que:
- Temos cultura – nossos padrões de interação com o meio natural vão se modificando.
Ou seja, revelamo-nos criativos e inventivos com o que acumulamos através dos tempos, com
as tecnologias, com os modos de intervir na natureza, de potencializar nossas capacidades de
ação.
- Somos sociedade – nossos padrões de interação com os outros vão se modificando.
Nosso comportamento não é regido tão somente pelos instintos ou pelas inclinações naturais.
Estabelecemos valores morais e éticos, regras de convivência e inventamos a política como
uma determinada forma, já não mais natural, de resolver as questões da vida coletiva.
- Somos sujeitos – temos personalidade e identidade. Fazemos escolhas e nos afirmamos
na singularidade do nosso modo de ser.
Levar isso em conta significa que, para constituir-se sujeito do tempo presente, cada
qual necessita incorporar a experiência histórica da espécie humana através de processos de
aprendizagem. Essa aprendizagem, obviamente, ocorre com ou diante do que as gerações
anteriores já aprenderam, ou seja, ela se dá como continuidade de geração para geração, embora
não sob a forma de simples repetição. Observe-se que essa possibilidade de o ser humano
aprender em perspectiva de continuidade, dispensando-o de aprender tudo a partir da “estaca
zero”, deve-se ao desenvolvimento de uma competência pedagógica. E é nesse sentido que se
pode dizer que a espécie humana é uma espécie que se constitui pedagogicamente.
Para fazer jus à nossa condição, importa aprender com quem nos precedeu, mas de modo
sempre novo, reformulado, ajustado às condições também novas em meio às quais emergimos
AÇÃO INTEGRADA DE SUMÁRIO 54
FORMAÇÃO DE PROFESSORES