Page 58 - Ação integrada de formação de professores
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no tempo presente, no modo de situar-se e de perceber dos próprios aprendentes, sejam eles
educadores ou educandos.
Instituições educativas como a escola e a universidade constituem espaços em que a
tradição da sociedade humana busca formas de sistematização, acompanhadas da explicitação
de seus sentidos ou razões que a sedimentaram. Elas expressam o desejo das gerações mais
velhas de que as gerações novas contem com as experiências e conquistas da história humana.
Já para as gerações novas, as instituições educativas apresentam-se como lugares privilegiados
para saberem em que mundo cultural e social estão emergindo e com o que podem contar
para se realizarem na vida. Disso se depreende que uma instituição educativa é marcada
por um forte sentido de conservação da cultura e da sociedade, inclusive, como condição de
possibilidade para o seu redimensionamento. Quem educa é movido pela intenção de fazer
dos educandos cidadãos do tempo presente, condição essencial para que possam ser cidadãos
do tempo futuro.
Goza de amplo consenso nas sociedades modernas e contemporâneas a ideia de que
a escola cumpre papel central na educação das novas gerações, o que não significa ignorar
que a humanidade viveu (e boa parcela ainda vive) sem essa instituição chamada escola, um
artifício situado historicamente (como tudo o que é humano). Referimo-nos aqui à escola
instaurada pelas repúblicas que emergiram nas revoluções políticas a partir do século XVIII.
No entendimento de Condorcet (2008), um dos pioneiros a pensar a instrução pública como
tarefa do Estado Republicano, a liberdade dos cidadãos associa-se ao conhecimento, dado que
a ignorância e a desigualdade da instrução estão na base das tiranias.
No esforço de delimitar a especificidade da educação escolar, trazemos a contribuição
de Carvalho (1996), segundo o qual cabe à escola, primeiramente, conservar e transmitir os
conteúdos culturais de uma civilização ou nação. Preparar a passagem do privado (família)
para o público (política/cidadania), viabilizando sua inserção e sua ação no mundo, através da
qualificação da capacidade de interlocução, colocando-se à altura dos problemas de seu tempo.
Enfim, cabe à escola colocar-se como ponte entre o passado e o futuro das gerações humanas,
que é o presente dos adultos, pelo qual estes são responsáveis.
De acordo com Savater (2000, p. 54), a justificação da escola vem do reconhecimento de
que existe diferença entre o saber empírico e tradicional e o saber científico. Da mesma forma,
Young (2007) afirma que cabe à escola possibilitar o acesso ao “conhecimento poderoso”, que
é independente de contexto (conhecimento teórico), que permite generalizações e busca a
universalidade, fornecendo a base para fazer julgamentos, a qual, geralmente, é de natureza
científica.
Este conhecimento garante a especificidade da educação escolar, uma vez que, com o
desenvolvimento das ciências, tornou-se impossível adquiri-lo em âmbito familiar, o que não
significa que a educação proporcionada pela família não tenha valor, mas trata-se de valores
de ordens diferentes.
Entendemos que reside nesta centralidade do conhecimento uma questão estreitamente
vinculada à função pública da escola, pois acreditamos que ela é um lugar onde é possível
apresentar e construir formas de olhar e de sentir o mundo sem os estreitamentos próprios
de outros espaços institucionais (família, igreja, partido...). Entendemos, também, que é
exatamente nisso que reside a sua especificidade. Assim, a escola faz sua parte quando propicia
a aprendizagem dos conteúdos curriculares, em especial, para aqueles segmentos sociais em
que ela é determinante pelo fato de não terem acesso a outros bens materiais.
AÇÃO INTEGRADA DE SUMÁRIO 57
FORMAÇÃO DE PROFESSORES