Page 62 - Ação integrada de formação de professores
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Chamam a atenção para a necessidade de formações voltadas para a alfabetização
tecnológica a fim de diminuir a distância entre professores e alunos. Sugerem que
as formações se caracterizem por um acompanhamento mais regular junto aos
professores, a fim de que os problemas particulares de cada escola sejam enfrentados
num enlace com o cotidiano. De fato, suspeitamos que formações demasiadamente
genéricas e circunscritas a um período de tempo muito pontual sejam insuficientes
para atender as demandas escolares, que se renovam diariamente. Nesse sentido,
formações sistemáticas, que seguem um processo contínuo tendem a ser mais
eficazes. Provavelmente, evitariam que fossem cumpridas apenas formalmente e
cujos impactos fossem perdendo força tão logo a rotina da escola se restabeleça.
2) Abandono docente. A avaliação também indicou que, no atual contexto de sobrecarga
de trabalho e de mudanças significativas da cultura infantojuvenil, muitos professores
sentem-se desmotivados e, em certa medida, impotentes em relação à condução das
aulas, admitindo haver planejamentos que não corroboram a dinâmica (desafios)
da escola contemporânea. Na reflexão acerca dessa questão, revelou-se, inclusive,
a constatação de abandono docente, muito mais por impotência do que por falta de
compromisso.
3) Descompasso entre gerações. O desinteresse dos alunos, a ausência do desejo de aprender
foi proeminente nos discursos dos professores, revelando-se como um dos principais
fatores causadores da angústia docente, sobretudo, porque a escola, sensível às
exigências, procura adaptar-se às demandas juvenis, que são inúmeras, transitórias e
quase sempre divergentes das da escola. A grande maioria dos professores ressaltou
a necessidade e a urgência de a escola ser mais atrativa e prazerosa a fim de garantir
a atenção dos alunos. Convém questionar se seria adaptando-se ao fluxo geral da
sociedade contemporânea, eminentemente tecnológica e consumista, que a escola
conseguiria atrair e manter o interesse infantojuvenil. Convém questionar, também,
se a escola não deveria justamente colocar-se como seu contraponto, assumindo-se,
conforme sugerem Masschelein e Simons (2015), como um lugar de suspensão, frente
às exigências externas, para que os alunos pudessem fazer a experiência de sentirem-
se “capazes de”, de experimentarem o conhecimento pelo conhecimento, sem
qualquer funcionalidade. Parece-nos que qualquer esforço da escola para competir
com os apelos altamente sedutores do mundo externo serão sempre insuficientes.
Talvez seja o caso de a escola assumir que o seu tempo é definitivamente outro: mais
lento, processual, gradual, tonal, exigente de espera, de paciência, de concentração,
de olho no olho, de toque. Esses atributos estão exatamente numa relação inversa
à dinâmica simultânea, instantânea e efêmera imposta, por exemplo, pelas mídias
digitais. Se assumisse essa diferença e procurasse pensar modos alternativos de
movimentar-se nesse seu ritmo próprio, marcando sua especificidade, talvez seja
possível que a escola recupere sua credibilidade por ser, ao menos ela, um lugar onde
os alunos possam estar protegidos dessa perversa lógica competitiva e meritocrática.
4) A ausência da família. A participação efetiva dos pais na vida escolar tem sido uma
das solicitações mais recorrentes dos professores. Mas, aqui, convém observar
dois pontos, que não podem ser negligenciados. Em que pese a importância do
envolvimento familiar na educação dos filhos, precisamos admitir que já não cabe
exclusivamente à família o papel “[...] na socialização primária dos indivíduos [...]”,
como indicado por Savater (2000, p. 58). As crianças têm sido levadas cada vez
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