Page 57 - Ação integrada de formação de professores
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do  outro, por algo como  uma aprovação  ou desaprovação  diante de alguma manifestação
           que fazemos. Essa certificação que o outro nos confere e que tendemos a buscar nos demais
           indivíduos com quem estamos ou interagimos constitui o princípio de tudo o que temos como
           conhecimento. É também esse outro, com seu “sim” ou “não”, que nos motiva e nos impulsiona
           na direção do incremento do conhecimento, o que buscamos através de novas aprendizagens.
                 Como se pode ver, pressupõe-se aqui que o conhecimento é resultante de uma relação
           intersubjetiva ou comunicativa, ou seja, ele aparece como produto de uma comunidade de
           argumentação. No caso do chamado conhecimento científico, sua validade se deve ao aval,
           mesmo que sempre provisório, de alguma comunidade científica. Assim, todo conhecimento
           aparece como um feito coletivo, intersubjetivo e social, podendo, portanto, ser apresentado
           mediante explicações, mediante apresentação de motivos que o tornam pretensamente válido.

                 Considerada essa base intersubjetiva de todo conhecimento, possibilitada pelas formas
           de linguagem desenvolvidas pelos homens ao longo dos tempos, pode-se tomar o conjunto
           dos saberes humanos como construções simbólicas. Ou seja, na base de todo e qualquer
           conhecimento consta uma estrutura comunicativa, resultante de sequências de proposições e
           de manifestações a favor ou contra a sua pertinência ou validade. Assim, a caracterização de um
           episódio ou de um estado como sendo de conhecimento significa “colocá-lo no espaço lógico
           das razões, da justificação e da capacidade para justificarmos aquilo que dizemos” (SELLARS,
           apud RORTY, 1988, p. 149).

                 Isso significa que se hoje tomamos determinada expressão cultural como um legítimo
           conteúdo de ensino, tal legitimidade só pode estar vinculada ao processo de sua validação.
           Uma validação que ocorreu mediante a argumentação baseada ou em dados empíricos, ou em
           motivos éticos, ou, ainda, em razões de outra ordem qualquer. Assim, a possível validade de
           um conhecimento a ser ensinado reside na sua passagem por um processo de apresentação de
           razões em favor de sua pertinência, seja em termos de verdade, seja em termos de correção. A
           manutenção da validade desse conhecimento e de sua “dignidade” para continuar constando
           dos currículos escolares se vincula, por sua vez, ao referendo que se dá ou não a tais razões.
                 A percepção do  conhecimento  a partir desta  base intersubjetiva ou comunicativa
           sugere que a dinâmica de ensinar e de aprender se paute na própria estrutura comunicativa
           dos saberes. Ou seja, que a abordagem de um conhecimento com vistas à sua aprendizagem
           considere  o próprio percurso comunicativo  que está na base de sua pretensa validade.
           Conteúdos culturais podem apresentar-se sob a forma de conceitos, técnicas, valores, regras
           de convivência ou modos de ser. Seu aparecimento em meio aos currículos escolares se dá
           com base em justificativas e percepções acerca de sua validade. Sua aprendizagem só pode
           ocorrer mediante o acesso a essas justificativas e mediante o desenvolvimento de convicções
           pessoais acerca de sua validade ou pertinência (BOUFLEUER, 1997, p. 74ss). Aprender, nesse
           sentido, consiste em compreender razões. Esse aprender sugere um percurso didático capaz de
           identificar as situações-problema que desencadearam processos comunicativos ou discursos
           que, por sua vez, resultaram nos conceitos, técnicas, valores ou regras, ora propostos como
           conteúdos de aprendizagem.
                 A abordagem pedagógica de um conhecimento pressupõe, portanto, a indicação de sua
           validade como aspecto concernente à vida social e cultural na qual o educando está sendo
           inserido. Tal indicação  de validade social  ou cultural, mesmo  que de caráter propositivo e
           provisório, é decisiva  para que o educando  possa elaborar sentidos e percepções próprias,
           isto é, efetivamente aprender. Disso resulta que a educação tem uma necessária ancoragem




           AÇÃO INTEGRADA DE                                                      SUMÁRIO                   56
           FORMAÇÃO DE PROFESSORES
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