Page 59 - Ação integrada de formação de professores
P. 59

Pela apropriação do “conhecimento poderoso” (YOUNG, 2007), a escola cumpre com a
           sua função principal, que é a de introduzir os alunos no mundo sociocultural que a humanidade
           construiu, com o objetivo de que eles possam, com este “empoderamento”, incluir-se no projeto,
           sempre renovado, da reconstrução do mundo comum. Os alunos precisam aprender que a
           humanidade, nesse seu processo de construção, tem criado formas de representar o mundo,
           mesmo que sempre provisoriamente, que são mais defensáveis (dado sua universalidade) que
           outras, e que, por isso, são privilegiadas no processo de conservação cultural, mesmo que em
           oposição à cultura local. Também precisam aprender que a humanidade tem promovido formas
           de convívio social que são mais razoáveis por permitirem, entre outras coisas, que as pessoas
           possam participar/influenciar no processo de tomada de decisão política sobre questões que
           dizem respeito a todos e, portanto, são mais dignas de serem estimuladas e compreendidas.
           Finalmente, os  alunos precisam  aprender que a humanidade  tem construído  maneiras  de
           validar essas formas de conhecer e de conviver, que, portanto, precisam ser entendidas para
           que eles possam continuar questionando o seu valor. Algo como compreender as “regras do
           jogo” para podermos interrogar sua pertinência e participar da reconstrução dessas regras e da
           criação de novas (GONZÁLEZ; FENSTERSEIFER, 2009).
                 Essas intencionalidades dependem, entre outras coisas, da docência, que se pauta pela
           busca ou pela indicação de formas de otimização das aprendizagens, com o desejo de que a
           experiência de termos um mundo humano se mantenha e se aprofunde. Assim, trata-se de saber
           em que sentido a docência pode ter maior qualidade. Uma qualidade que efetivamente seja
           capaz de fazer diferença. Diferença na vida do aluno que frequenta uma instituição educativa.
           Não estamos identificando qualidade com o “que vende”, ou com o que o aluno simplesmente
           goste. Essa ideia pode ser extremamente enganosa. A qualidade da ação pedagógica não pode
           ser confundida com a satisfação imediata do aluno, que, em regra, só mais tarde tem condições
           de fazer uma boa avaliação do trabalho docente, quando for capaz de reconhecer, por exemplo,
           que valeu a pena ter tido determinadas aulas, que valeu a pena o investimento e o esforço
           feitos.
                 Entendemos que não há dialética pedagógica sem docência, ou melhor, sem antes alguém
           se constituir como anterioridade pedagógica. Anterioridade no sentido de ter aprendido antes
           a ponto de poder assumir a tarefa de mediar a inserção social e cultural de quem está chegando.
           À pedagogia sempre foi atribuído o sentido de “condução”. Como alguém poderia conduzir
           outros por caminhos nunca antes andados? Assim, o aspecto que se apresenta em primeiro
           plano no tocante à dialética pedagógica e que configura, por assim dizer, a própria condição da
           docência é a relação do educador com o saber cultural que se propõe a ministrar.
                 A escola é o espaço  no qual acolhemos  as novas  gerações. Nesse  sentido, cabe ao
           professor  não apenas informar os  saberes e regras existentes, ou os  valores  cultivados,
           mas,  especialmente,  justificá-los  para  quem  está  chegando,  mostrando  sua  pertinência, sua
           validade, baseado em razões que os que chegam possam entender. É preciso, pois, produzir
           um entendimento, oportunizar um aprendizado baseado na compreensão de razões.
                 E é aí que entra o trabalho pedagógico da escola, já que as novas gerações não aprendem
           por mera repetição, pelo simples fato de serem informadas dos modos de ser e de portar-se
           instaurados. Elas necessitam avaliar por si e com base nas suas percepções se esses modos
           de agir, de ser e de portar-se fazem sentido. Necessitam das justificações daquilo que lhes é
           apresentado como saber, como conhecimento, o que torna a escola um lugar que funciona sob
           condições específicas. Não no formato de informar, de transmitir, de guardar, de simplesmente





           AÇÃO INTEGRADA DE                                                      SUMÁRIO                   58
           FORMAÇÃO DE PROFESSORES
   54   55   56   57   58   59   60   61   62   63   64