Page 72 - Ação integrada de formação de professores
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A autora esclarece que a alegação de que o professor não pode transmitir “conhecimentos
petrificados” revela, na verdade, a desconsideração do passado e da tradição, o que acarreta
o empobrecimento do currículo escolar, porque priva os educandos do acesso às riquezas
do patrimônio histórico-cultural da humanidade. Negligenciando as dimensões ético-
políticas e estéticas da educação, a escola, a partir da modernidade, privilegia cada vez mais
os conhecimentos técnicos, de aplicação prática imediata, em detrimento dos conhecimentos
gerais e teóricos.
Como destaca Canivez (1991, p. 143):
Ao considerar todo o passado como morto, ao considerar que toda tradição, enquanto
tal, está superada, o educador comete uma dupla falta. Em primeiro lugar, ele se
recusa a assumir a responsabilidade pelo mundo. Mostra seu próprio desgosto ou suas
incertezas e compromete assim as oportunidades que têm as crianças de assumirem
seu lugar no mundo e de nele agir. [...] Em segundo lugar, ao pretender estar sempre
na ponta da vanguarda, o educador toma o lugar das crianças quanto à inovação. Além
de a tentativa ser impossível porque a escola está sempre em atraso com referência ao
que se faz no mundo (em todos os domínios: científico, cultural, político, etc.), ela é
propriamente reacionária: o educador que despreza o passado e cuja palavra-mestra é a
modernidade impõe de fato às crianças a sua ideia de novidade, ideia de que, de todo
modo, é sempre mais velha que as crianças. Ele acaba não ensinando mais nada, já que
todo saber é tradicional. Priva as crianças da capacidade de inovar quando se põe a
inventar, em lugar delas, a novidade.
A utilização de metodologias ativas e a inserção das tecnologias no contexto educacional
não pode significar o rompimento com a tradição e com o legado cultural acumulado ao longo
da trajetória da humanidade. Ao contrário, enriquecer as propostas metodológicas com os
recursos tecnológicos atuais precisa ser uma estratégia de qualificação dos currículos, a fim de
potencializar a aprendizagem de conceitos significativos em cada área do conhecimento.
Para Almeida (2011, p. 172), a escola precisa promover o acesso à diversidade de
conhecimentos: há aqueles que, num sentido pragmático, são menos úteis, mas necessários
para entendermos o mundo e nele nos movimentarmos; há outros que nos servem diretamente
para resolver problemas e tarefas práticas. A autora afirma que os conhecimentos de história,
por exemplo, não são ferramentas que podem ser utilizadas na vida cotidiana, mas são
fundamentais para situar os indivíduos no mundo. Por outro lado, as funções básicas da
aritmética, muitas vezes, são diretamente aplicáveis e de grande utilidade no dia a dia.
A aprendizagem dos conteúdos de cada área contribui para a compreensão do mundo,
fomentando o pensar sobre tais conteúdos e sua relação com o mundo tal como se apresenta,
em busca não só da simples aplicação de conceitos, mas do sentido desses conceitos para o
entendimento da realidade vivenciada e das experiências humanas ao longo do tempo. Esta
interpretação, enquanto busca de sentido, é uma apropriação que o indivíduo faz do conteúdo
a partir do lugar que ocupa no mundo, por meio da qual desenvolve a capacidade de autoria.
No entendimento de Carvalho (2013, p. 50-51), a formação escolar passa necessariamente
pelo ensino de capacidades e disciplinas específicas; contudo, está longe de aí esgotar-se. A
escola é uma instituição social regida por uma série de valores, práticas e objetivos decorrentes
da peculiaridade de sua história e da natureza de sua tarefa, precípua na iniciação dos jovens
no mundo comum e público.
Dessa maneira, além de ensinar conteúdos, iniciando os jovens numa herança pública de
linguagens, práticas e princípios éticos ligados aos ideais de uma educação pública, o professor
AÇÃO INTEGRADA DE SUMÁRIO 71
FORMAÇÃO DE PROFESSORES