Page 69 - Ação integrada de formação de professores
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Ainda, no que concerne à relação entre professor e aluno, cabe ressaltar que a educação
é, pois, uma ação essencialmente humana. Educadores e educandos diferem quanto à sua
bagagem cultural e os conhecimentos que possuem, mas se igualam na questão da humanidade.
Trata-se de algo complexo, posto que, ao mesmo tempo em que a humanidade nos iguala
(condição humana), ela nos diferencia, porque, como seres humanos, somos todos diferentes.
Os próprios educadores diferem quanto a sua trajetória de vida e de formação (cada um tem
sua história, suas experiências, seus anseios e concepções).
Nesse sentido, o Projeto Político Pedagógico é fundamental enquanto registro das
intenções e dos ideais da escola, e, principalmente, como documento construído pelo coletivo
da comunidade escolar, articulando o instituído e o instituinte. Por isso, configura-se como
político e pedagógico. É um projeto, por demarcar as intencionalidades, as perspectivas dos
instituintes da escola. É político, porque abrange as questões éticas no sentido de garantir
as aprendizagens requeridas pela concidadania responsável e competente da sociedade
contemporânea. É pedagógico, por definir o que se pretende fazer e como fazer, visando ao
aproveitamento das potencialidades dos sujeitos.
A intencionalidade política traduzida em proposta pedagógica é constitutiva do ser da
escola, que se define em sua especificidade e identidade, por se fazer elucidativa da
vontade coletiva e relevante para os fins a que não basta propor-se, mas que possam ser
cumpridos (MARQUES, 2006, p. 98).
A escola é um compromisso com a cultura viva e construída na ação de seus constituintes
internos: os alunos (portadores da cultura de seu meio) e os professores (com sua própria
cultura e o compromisso profissional com a proposta pedagógica da escola, informada pelos
valores consensualmente definidos e instrumentada pelos saberes e habilidades requeridas).
É aí que o trabalho escolar revela outro de seus paradoxos de base: é preciso conservar (o
patrimônio cultural) para transformar (as novas gerações, os “forasteiros”). Ao mesmo tempo,
valoriza-se o legado cultural das gerações anteriores, preservando-o e renova-se o mundo,
imprimindo-lhe as características da geração atual. Esse princípio fundamental, caríssimo
àquele envolvido ciosamente com o trabalho escolar, implica, por sua vez,
uma compreensão bem clara de que a função da escola é ensinar às crianças como o
mundo é, e não instruí-las na arte de viver. Dado que o mundo é velho, sempre mais que
elas mesmas, a aprendizagem volta-se inevitavelmente para o passado, não importa o
quanto a vida seja transcorrida no presente (ARENDT, 1972, p. 246).
Trata-se, pois, da ética pedagógica, que vai além de questões relacionadas com a dimensão
teórica da ação (os conteúdos) ou com a dimensão metodológica (os procedimentos). A questão
da autoridade é fundante e ultrapassa o sentido de qualificação do educador, configurando-se
como ponto-chave da ética docente, reguladora primordial do trabalho pedagógico, e, por essa
razão, capaz de tornar mais eficiente o papel da escola na educação das crianças.
Na proposta pedagógica, são definidos os conteúdos, conceitos e valores prioritários,
no sentido de construir um currículo sensível às dimensões da racionalidade plural e que
“contemple o direito de todos ao alargamento e à intensidade das aprendizagens necessárias
para a vivência da concidadania responsável” (MARQUES, 2006, p. 104). Diante dessa
organização complexa da proposta pedagógica, na qual é necessário considerar também o
currículo oculto, o instituído e o instituinte estão em permanente luta, o que é indispensável
para a sobrevivência e a relevância operativa da ação escolar.
AÇÃO INTEGRADA DE SUMÁRIO 68
FORMAÇÃO DE PROFESSORES