Page 73 - Ação integrada de formação de professores
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assume responsabilidades e atitudes educativas próprias do mundo escolar. Entre elas, destaca-
           se o compromisso de inspirar os jovens a apreciar e a admirar o legado cultural recebido das
           gerações anteriores, incluindo os princípios e os valores característicos da instituição escolar
           nos conteúdos e nas formas de conhecimento ensinadas em cada disciplina do currículo escolar.

                 Paulo Freire (2000, p. 43) defende que o ensino rigoroso dos conteúdos jamais se faça
           de forma fria, mecânica e mentirosamente neutra. O educador capaz e sério não deve apenas
           ensinar muito bem sua disciplina, mas deve desafiar o educando a pensar criticamente
           a realidade (social, política e histórica) na qual é uma presença. O autor considera que tão
           importante quanto  o  ensino  dos  conteúdos é o  testemunho ético  do  professor ao  ensiná-los.  Este
           testemunho envolve a decência no exercício profissional, a preparação científica e a coerência
           entre palavras, escritos e atos (FREIRE, 1996, p. 103, grifos do autor).

                 À medida que aprende e se apropria dos conteúdos estudados, o estudante também
           assume a autoria do conhecimento do objeto, tomando para si responsabilidades correspondentes
           ao sujeito que conhece. Reside aí a importância fundamental da educação  enquanto “ato
           de conhecimento, não só de conteúdos, mas da razão de ser dos fatos econômicos, sociais,
           políticos, ideológicos, históricos [...]” (FREIRE, 2011, p. 141). A aprendizagem dos conceitos
           fundamentais de cada disciplina coopera para que os estudantes possam compreender a razão
           de ser dos acontecimentos que os cercam, bem como, perceber as ligações entre passado e
           presente, por meio das quais definem seu lugar neste espaço-tempo partilhado.

                 Freire  (2011, p. 187) faz um chamamento aos educadores para que levem a sério
           indagações como: Que conteúdos ensinar? A favor de que e de quem ensiná-los? Contra o
           que e contra quem ensiná-los? Quem escolhe os conteúdos e como são ensinados? O que é
           ensinar? O que é aprender? Como se dão as relações entre ensinar e aprender? O que é o saber
           de experiência feito? Podemos descartá-lo como impreciso, desarticulado? Como superá-lo?
           Quem é o professor? Qual seu papel? E o aluno, quem ele é? Qual seu papel? Estas e outras
           interrogações são relevantes para que não percamos de vista o sentido do educar.

                 A busca de respostas a estes e outros questionamentos sobre a educação é significativa
           para que possamos problematizar o sentido da escolarização nos tempos atuais. Freire (2011, p.
           115) acredita que o ensino deve ser conduzido com seriedade, estabelecendo a disciplina em sala
           de aula, indispensável para demarcar que este espaço é dedicado ao aprender, diferentemente
           do “puro entretenimento, uma espécie de brinquedo com regras frouxas ou sem nenhuma
           regra, nem tampouco com um quê fazer insosso, desgostoso, enfadonho”. A escolarização
           precisa ser uma experiência de familiarização com o mundo e de acesso ao legado cultural,
           constituído pelas múltiplas gerações, sem representar doutrinação ou assemelhar-se a uma
           mera recreação.
                 O autor compreende a escola como “[...] tempo-espaço de produção de conhecimento
           em que se ensina e se aprende, compreende, [...] girando em torno da compreensão do mundo,
           dos objetos, da criação, da boniteza, da exatidão científica, do senso comum” (FREIRE, 1993,
           p. 6). Por seu turno, Arendt (1972, p. 246), considera que a “[...] a função da escola é ensinar
           às crianças como o mundo é, e não instruí-las na arte de viver”. A partir dessas concepções,
           constatamos que o sentido da escolarização seria, então, o de acessar o legado das gerações
           anteriores, construindo  e partilhando o  conhecimento  para compreender  o  mundo  e nele
           situar-se.
                 Nóvoa (2015) ressalta a importância do aprender a pensar, que permeia todas as
           disciplinas, das ciências às artes e às humanidades. Torna-se necessária uma pedagogia que, em




           AÇÃO INTEGRADA DE                                                      SUMÁRIO                   72
           FORMAÇÃO DE PROFESSORES
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