Page 162 - Garantia do Direito à Educação
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Roberto Rafael Dias da Silva


                                     [...] referir-se aos professores como facilitadores de aprendiza-
                                     gem, ao ensino como criação de oportunidades de aprendiza-
                                     gem, às escolas como ambientes de aprendizagem, aos estudan-
                                     tes como aprendizes e aos adultos como adultos aprendizes, ao
                                     campo da educação de adultos como aprendizagem ao longo da
                                     vida e à educação em geral como o processo de ensino-aprendi-
                                     zagem (Biesta, 2016, p. 121).


                         Quando os processos de aprendizagem adquirem centralidade,
                    sob essa lógica, ocorre um reposicionamento do papel docente. Ao en-
                    fatizar a perspectiva individualizante da noção de aprendizagem, Biesta
                    (2016, p. 122) reitera, em tom crítico, que “se esta é a única linguagem
                    disponível, então os professores terminarão sendo uma espécie de ges-
                    tores de processos de aprendizagem, vazios e sem direção”.
                         Acerca deste quinto paradoxo que escolhemos assinalar neste tex-
                    to, importa enfatizar que, ao tempo em que há um declínio do progra-
                    ma institucional da escola moderna (Dubet, 2010), parece emergir e
                    consolidar-se uma linguagem pedagógica centrada na aprendizagem, de
                    caráter individualizante e redutora do ensino a processos de gestão da
                    aprendizagem (Biesta, 2016). Sob esse cenário, parece-nos relevante de-
                    fender os sentidos públicos para os fazeres docentes na educação básica,
                    ao mesmo tempo em que vale a pena restabelecer os debates acerca dos
                    procedimentos de seleção dos conhecimentos escolares, dos materiais
                    didáticos apropriados, das possibilidades de planejamento e das estra-
                    tégias avaliativas de caráter formativo. Ao atribuir ênfase à formação
                    continuada de professores, nossa intenção é potencializar, valendo-nos
                    das palavras de Biesta (2016, p. 128), “a coragem de ensinar”.


                    Considerações finais


                         Mesmo que estejamos expostos a uma sociedade do cansaço e ex-
                    perienciemos um período de declínio do ensino e dos debates públicos
                    sobre os propósitos da escolarização, na qual a obra de Salman Rushdie
                    (2003) torna-se emblemática, nosso argumento acerca das políticas
                    e práticas de formação continuada dos professores direciona-se para


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